Artesãs produzem mais de 60 imagens de N.S. feitas de fibra de bananeiras

Por Jornalista Alair de Almeida, Diretor e Editor do Jornal Região Sul em 12/10/2021 às 10:05:31
Exposição acontece em Delfinópolis nesta terça-feira (12), segundo maior produtor de banana em Minas Gerais. A banana é uma fruta que está sempre presente na alimentação dos brasileiros. Ela pode ser consumida "in natura" ou ser utilizada em diversos outros pratos, mas o que muita gente não sabe é que além de oferecer o alimento, a bananeira pode ser usada no artesanato. Neste dia 12 de outubro, uma exposição irá apresentar 62 Nossas Senhoras produzidas com fibras de bananeira em Delfinópolis (MG).

Uma diferente da outra. Foi esta a proposta feita para o grupo das Arteiras da Canastra, de Delfinópolis. O tema da exposição é "Todas as Nossas Senhoras são a mesma mãe de Deus", em homenagem ao dia de Nossa Senhora Aparecida.

"A gente fez uma ampla pesquisa, tem desde Nossa Senhora das Lágrimas, Nossa Senhora Aparecida até Nossa Senhora o Desterro. Tem santa que a gente nem conhecia. A gente faz uma releitura na realidade, porque a gente não consegue fazer exatamente igual a santa de gesso, mas você olha e sabe qual santa que é", explicou a presidente da Associação de Artistas e Artesãos de Delfinópolis, Silvia Cabral.

Artesãs produzem mais de 70 "Nossas Senhoras" com fibras de bananeira para exposição no dia da padroeira em MG

Arteiras da Canastra

Silvia contou que algumas das santas já eram produzidas por elas, mas outras não. Quanto mais adornos e adereços, mais desafiadora é a construção da imagem.

Esta é a primeira vez que as Arteiras vão expor o trabalho para toda a cidade. Por causa da pandemia, apenas cinco das 11 integrantes do grupo estavam indo até a oficina e auxiliaram na confecção das peças, que demoraram cerca de um mês para ficarem prontas.

Durante a exposição, as artesãs estarão na capela do camping Claro Casa de Pedra explicando como cada peça foi produzida. Tudo o que está nas imagens foi produzido com fibra de bananeira e uma das Nossas Senhoras foi confeccionada com o tamanho de uma pessoa real.

"Foi um desafio. É sempre bom saber que a gente está sendo reconhecida e valorizada. Vai ser um marco na história, porque a cidade nunca teve exposição com as nossas peças".

A exposição é aberta ao público durante toda está terça-feira (12). Ela é organizada pelo médico ortopedista Adauto de Castro Soares, devoto de Nossa Senhora Aparecida. Além da exposição do trabalho feito pelas arteiras, vai haver exposição de mini animais e terço.

"O objetivo é despertar religiosidade da população e atrair o público turista, pois a exposição é numa fazenda de lazer. Além de apoiar e divulgar dos trabalhos das Artesãs Arteiras da Canastra", afirmou Adauto.

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Nilva Garcia e Carmelia Vaz

Artesanato com fibras de bananeira

Segundo o balanço do agronegócio divulgado pela Secretaria Estadual de Agricultura, Pecuária e Abastecimento em 2020, Delfinópolis é o segundo maior produtor de banana de Minas Gerais. Pensando em utilizar o máximo do que a bananeira oferece, em 2019 surgiu o grupo das Arteiras da Canastra.

"O nosso artesanato é baseado na fibra da bananeira, porque a gente tem matéria-prima em abundância. A gente trabalha com o que foi descartado da lavoura. O que acontece é que cada tronco dá só um cacho. Então, o tronco que seria descartado, o produtor traz e a gente trabalha com a fibra dele", explicou.

O surgimento do grupo foi apoiado pelo Senar, que promoveu capacitações para as artesãs ao longo dos anos.

"O artesanato era muito diverso, mas elas não percebiam que tinham uma grande quantidade de matéria-prima à disposição, que é a bananeira. Aí, três das associadas começaram a se despertar para estas questões de trabalhar com a fibra de bananeira. E foi aí que eu entrei no processo de produção, trabalhando e ensinando a produzir produtos utilitários, decorativos, lembranças e outras peças. Com o tempo a gente foi voltando para aprimorar a produção e fomos fazendo ajustes até que elas chegassem no patamar que elas estão hoje", explicou o instrutor de técnicas artesanais diversas, Jair Dionísio de Souza.

Hoje, o grupo conta com 11 mulheres artesãs. Dentre os produtos produzidos por elas estão artigos religiosos, mandalas, linhas de utilitários como tigelas e também cestarias. Quase 100% da matéria-prima é utilizada durante a confecção das peças de artesanato.

"Dá pra dizer que nosso artesanato é 100% sustentável, porque com os retalhos que sobram a gente faz papel e que é utilizado também na produção das imagens. A pessoa que vem aqui visitar a gente fala assim que nunca mais vai olhar pra uma bananeira da mesma forma. A bananeira é útil das raízes às folhas e a gente usa tudo", afirmou Silvia.

Diferente do algodão, a fibra de bananeira é tratada manualmente. Um serviço braçal que é recompensado com a beleza das peças produzidas.

"O tronco da bananeira é como uma cebola, você vai tirando as camadas. Ela é pesada, é uma planta que tem muita água. De lá, a gente retira as fibras que a gente trabalha. A gente tira o filé que faz o crochê, tira uma outra fibrinha fina que a gente faz os amarrios, uma outra um pouco mais larga que a gente faz os trançadinhos. Depois ela ainda tem mais três fibras: a seda, a renda e a capa. A gente faz o tratamento para não dar fungo, caruncho, pra ter uma durabilidade muito maior. Depois tem que cozinhar, triturar e tem o ponto certo. Aí a gente leva pro tear", explicou.

Fibra e umbigo da bananeira utilizados na produção do artesanato das Arteiras da Canastra

Arteiras da Canastra

Segundo a arteira, uma peça produzida com fibra de bananeira pode durar até 30 anos, se bem cuidada. Uma dica é manter as peças úmidas de vez em quando.

"A pessoa pode estar borrifando água, água com vinagre. Poeira é como qualquer outro móvel que você tenha. A gente trabalha muita petisqueira, travessa que a pessoa pode até temperar uma salada dentro que ela não vai escurecer, mas a pessoa não pode colocar um pano de molho dentro", explicou.

O grupo vem crescendo e se desenvolvendo cada dia mais. Uma das novidades são as peças produzidos com o umbigo da bananeira, uma peça não muito utilizada no artesanato.

"Aqui a gente usa ele pra fazer as nossas imagens, pra fazer fundo das imagens, para fazer flores. Ficamos seis meses fazendo teste, porque ele é diferente da fibra. Hoje conseguimos desenvolver uma massa com o umbigo e conseguimos usar ele 'in natura', do jeito que veio da lavoura".

Peças produzidas com fibras de bananeiras pelas Arteiras da Canastra, de Delfinópolis (MG)

Arteiras da Canastra

Atualmente, o Senar continua acompanhando o trabalho das artesãs, mas as capacitações atuais são voltadas para a gestão de vendas das peças produzidas. Elas estão participando no novo Programa de Gestão do Artesanato (Progearte).

O programa busca promover a profissionalização do artesão mineiro, adequando o processo de criação e produção artesanal, maximizando sua lucratividade por meio de estratégias de gestão e marketing. Durante dois meses, as artesãs participarão de várias capacitações e o projeto culminará com a realização de uma feira no mês de dezembro.

Fonte: G1 Sul de Minas e Prefeitura Municipal

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