Tráfico, roubo, assalto à mão armada: veja alguns crimes já atribuídos aos mineiros mortos em Varginha

15 dos 26 bandidos mortos em confronto com a Polícia em Varginha já foram identificados, e 6 mineiros tinham passagens criminais

Por Jornalista Alair de Almeida, Diretor e Editor do Jornal Região Sul em 02/11/2021 às 18:40:06
Armamento de guerra

Armamento de guerra

A ação policial realizada no sábado (30) terminou com 26 mortos. Os corpos foram encaminhados de Varginha para o Instituto Médico-Legal de Belo Horizonte. O que se sabe sobre a operação que deixou 26 mortos em Varginha (MG)

Os seis mineiros que morreram durante a operação policial em Varginha, no sul do estado, já tinham antecedentes criminais. Eles são das cidades de Uberlândia e Uberaba, no Triângulo Mineiro.

A TV Globo teve acesso a boletins de ocorrência registrados entre 2011 e 2021 em que os homens aparecem como citados. Na época em que os episódios foram relatados, alguns dos suspeitos ainda eram menores de idade.

Até às 17h40 desta terça-feira (2), a Polícia Civil havia identificado dez dos 26 corpos. Os outros quatro já reconhecidos pela equipe do Instituto Médico Legal (IML) são do Amazonas, Maranhão, Goiás e Roraima. Os nomes dos outros 16 ainda não foram divulgados.

O que se sabe e o que falta saber sobre a operação?

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Artur Fernando Ferreira Rodrigues, 27 anos

Tinha passagens por porte ilegal de arma de fogo e receptação. O nome dele aparece em um boletim de ocorrência da Polícia Rodoviária Federal pelo crime de roubo de carga e caminhões. A ocorrência foi em março de 2021, na BR-262, em Uberaba.

Gilberto de Jesus Dias, 29 anos

Tinha passagens por furto e tráfico de drogas. Em 2014, durante uma abordagem policial, atirou contra militares que participavam da ação por isso tem anotação por tentativa de homicídio. A ocorrência foi registrada na cidade de Coromandel, no Triângulo.

Gleisson Fernando da Silva Morais, 36 anos

Tinha passagens por furto e roubo. Em 2015, Gleison foi preso ao tentar entrar em um supermercado. Ele estava no telhado do estabelecimento quando os militares consegueiram prende-lo. Em 2012, participou do assalto ao prédio da ABZC, a Associação Brasileira dos Criadores de Zebú, em Uberada. Na época, seis homens armados invadiram o setor financeiro da associação, renderam funcionários e levaram cheques, documentos e celulares.

Itallo Dias Alves, 25 anos

Em 2012, quando era menor de idade, participou de um assalto à mão armada. Tinha várias passagens por dirigir sem carteira de habilitação. Em 2016 se passou por aluno e foi até a Escola Estadual Corina de Oliveira, no Bairro Mercês, em Uberaba, para ameaçar a ex-namorada. "Vou te matar, vou te dar um tiro" foram as ameças que o rapaz disse a vítima no dia em que a ocorrência foi registrada.

Raphael Gonzaga Silva, 27 anos

Tinha passagens por tráfico de drogas e receptação. Em 2012, quando era menor, fez parte de um grupo que tentou arrombar uma casa lotérica no Bairro Luizote de Freitas, em Uberlândia. No mesmo ano, uma pessoa que teve a moto roubada reconheceu Raphael por uma tatuagem que ele tinha na perna.

Thalles Augusto Silva, 32 anos

Em 2012 participou de um roubo a uma loja de material de construção. Ele e um comparsa levaram R$ 13 mil em dinheiro e correntes de ouro de funcionárias do estabelecimento. Os dois foram localizados horas depois do crime. Em 2017, a PM apreendeu com Thalles armas de fogo, entre elas umas pistola calibre 38. Teve passagens pelo sistema prisional.

Identificação

Os corpos estão no Instituto Médico-Legal Dr. André Roquette, em Belo Horizonte. Eles foram identificados por meio de exame datiloscópico (impressão digital).

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A Polícia Civil disse ainda que, além da identificação dos corpos, "desenvolve investigação da vida pregressa dos indivíduos, bem como dos fatos e de suas circunstâncias para possíveis correlações com outros eventos".

Segundo a Polícia, nenhum dos corpos estava com documentos.

Armamento apreendido durante operação da PM e PRF que resultou na morte de 26 suspeitos de roubo a bancos em Varginha (MG)

Tarciso Silva/EPTV

A Comissão de Direitos Humanos da Assembleia Legislativa de Minas Gerais e a Ordem dos Advogados do Brasil pediram apuração sobre as mortes.

O Fórum Brasileiro de Segurança Pública também acredita que uma investigação deve ser feita para apurar a ação (veja no vídeo abaixo).

Vinte e seis suspeitos de roubos a bancos são mortos durante operação policial em Varginha, MG

Em nota, a Polícia Rodoviária Federal (PRF) disse que "os policiais atuaram no estrito cumprimento do dever legal, utilizando a força necessária para repelir injusta agressão e manter a ordem pública e a incolumidade das pessoas, evitando a atuação de uma quadrilha, que pelo poderio bélico encontrado, poderia instaurar o caos na região, inclusive colocando a vida de cidadãos de bem em risco".

A Polícia Militar disse que, "de imediato, na primeira hora dos fatos, divulgou, ao vivo, em suas redes sociais, todas as ações que foram realizadas, além de organizar uma coletiva de imprensa com os responsáveis pela operação, que estiveram in loco. Não havendo, portanto, qualquer restrição de acesso à informação relacionada à ocorrência".

"Sobre a ação policial, além das medidas de Polícia Militar Judiciária adotadas, a instituição instaurou um Inquérito Policial Militar".

Protocolo usado em Brumadinho

Segundo a médica legista Tatiana Telles, assim que a Polícia Civil tomou conhecimento sobre as mortes na operação, encaminhou uma aeronave para Varginha, onde foram feitos os primeiros trabalhos para identificação dos corpos. Eles foram separados por numeração e foi feita uma primeira coleta de digitais.

Após o traslado dos cadáveres para Belo Horizonte em rabecões, cinco peritos e dez legistas começaram a atuar na realização de exames no Instituto Médico-Legal (IML) André Roquette por volta das 21h deste domingo (31).

A decisão de trazê-los para a capital se deveu à complexidade dos trabalhos. Para identificação dos corpos, foi adotado um protocolo semelhante ao adotado na tragédia de Brumadinho em 2019.

"Assim que os corpos foram recebidos no IML, foram classificados com numeração, foram devidamente colocados protocolo de desastre de massa, igual foi feito em Brumadinho", disse o legista Marcelo Mari.

Os corpos foram submetidos a exames de raio-X, passaram por coleta de DNA e ainda foram refeitas as coletas de impressão digital, para uma dupla chegassem. Os trabalhos seguiram ao longo de toda a madrugada e apenas uma pausa foi feita entre 6h20 e 7h.

Segundo Tatiana Telles, algumas famílias já procuraram o local buscando informações sobre a identificação dos suspeitos, que ainda não tem previsão para conclusão.

"Os familiares que tiverem supostos entes queridos em meio a esses corpos tragam documentos, como exames, tomografias, fotografias que apareçam os dentes, os rostos se tiverem tatuagens, documentos pessoais. Qualquer elemento qnue facilita a identificação antropológica dos suspeitos", afirmou o médico legista José Roberto Rezende Costa.

O prazo para conclusão do laudo pericial é de dez dias, podendo ser prorrogado devido à complexidade dos trabalhos.

26 mortes

De acordo com levantamentos policiais, a quadrilha se preparava para atacar um centro de distribuição de valores do Banco do Brasil em Varginha. A Polícia Militar (PM) disse que os suspeitos haviam alugado um sítio na cidade para ficarem perto do batalhão da corporação e assim realizarem a ação.

Segundo a Polícia Rodoviária Federal (PRF), os confrontos com os homens ocorreram em duas abordagens diferentes. Na primeira, os suspeitos atacaram as equipes da PRF e da PM, sendo que 18 deles morreram no local.

Em uma segunda chácara, conforme a PRF, foi encontrada outra parte da quadrilha e, neste local, após intensa troca de tiros, ocorreram as demais mortes.

De acordo com a polícia, eles têm relação com crimes cometidos contra instituições financeiras em Uberaba (MG), Araçatuba (SP) e Criciúma (SC).

25 suspeitos de roubos a bancos são mortos durante troca de tiros com PM, PRF e Bope em Varginha, MG

Divulgação/Polícia Militar

Armamento de guerra

Um vídeo divulgado pela Polícia Militar mostra o que seria armamento de guerra apreendido pelas forças policiais junto com a quadrilha que pretendia assaltar bancos no Sul de Minas.

Conforme a PM, os suspeitos tinham uniformes, coletes balísticos, coturnos e roupas camufladas. Além disso, tinham carregadores já municiados e armamentos de todos os calibres, como fuzis, escopetas e também "miguelitos", usados para furar pneus de viaturas.

A polícia também apreendeu com os suspeitos vários galões de combustível e materiais que seriam usados como explosivos.

Os integrantes da quadrilha poderiam fugir em uma carreta com fundo falso apreendida pela Polícia Rodoviária Federal. A suspeita é da PRF, que localizou o veículo em Muzambinho (MG).

A A Policia Militar disse que divulgou "todas as ações que foram realizadas, além de organizar uma coletiva de imprensa com os responsáveis pela operação, que estiveram in loco. Não havendo, portanto, qualquer restrição de acesso à informação relacionada à ocorrência. Sobre a ação policial, além das medidas de Polícia Militar Judiciária adotadas, a instituição instaurou um Inquérito Policial Militar".

Caminhão que poderia ser usado na fuga de quadrilha de mortos em MG é apreendido

Domínio de cidades

O modo de agir dos integrantes da quadrilha de roubos é denominado como "domínio de cidades". Neste tipo de prática, os criminosos utilizam práticas para impedir que as forças de segurança possam reagir e também colocam em risco a população.

A explicação é do comandante do Batalhão de Operações Especias (Bope), tenente-coronel Rodolfo César Morotti Fernandes. Em entrevista ao g1, ele explicou que a ação dos homens mortos no Sul de Minas é diferente da chamada de "novo cangaço" e é, na verdade, a denominada "domínio de cidades".

Parte das armas utilizadas pelos integrantes da quadrilha de roubos a bancos motos em Varginha (MG)

Armamento apreendido durante operação da PM e PRF que resultou na morte de 25 suspeitos de roubo a bancos em Varginha (MG)

Tarciso Silva/EPTV

"Nesse contexto de atuação criminosa, o "novo cangaço" subintende a ações de menor vulto. Ações de quadrilhas menores, com menor poderio bélico e em cidades menores", disse ao g1.

"O domínio de cidades seria uma evolução do novo cangaço, seria uma forma mais violenta, com mais material empregado, mais efetivo por parte dos criminosos. Ou seja, onde ele teria que dominar a cidade impedindo uma reação imediata da força de segurança, onde ele teria tempo para concretizar a ação criminosa. Basicamente a diferença entre novo cangaço e domínio de cidades seria isso: a quantidade de agentes e esse ânimo em impedir qualquer reação por parte da força de segurança local", completou.

Fonte: G1 Sul de Minas e Polícias Civil e Militar, PRF, Perícia da PC

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