Vizinhos de sítios usados por 26 suspeitos mortos em MG seguem com medo um mês após operação:

Por Jornalista Alair de Almeida, Diretor e Editor do Jornal Região Sul em 01/12/2021 às 12:30:15
Locais em que os homens suspeitos de integrar grupo de roubo a bancos estavam hospedados estão abandonados. Caso segue com investigações em andamento. A operação que matou 26 suspeitos de integrar uma quadrilha de roubos a banco em Varginha (MG) completou um mês e segue com investigações em andamento. Os locais utilizados pelos homens mortos no confronto com a Polícia Militar e a Polícia Rodoviária Federal estão abandonados. Os vizinhos dos imóveis relembram da ação e relatam ainda conviver com medo.

"Foi assustador. Hoje a gente deixa o portão mais fechado. Já fica um pouquinho cismada né?", disse uma vizinha que não quis se identificar.

"Para conversar com a gente tem que chamar no portão, porque não dá para confiar mais não. A gente jamais imaginaria que aconteceria uma coisa aqui tão perto. E com tantas mortes né? Foi muita gente", completou.

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Franco Junior/g1

Horas antes da operação ocorrer na madrugada do domingo, dia 31 de outubro, uma família comemorava aniversário de dois anos do filho na noite do dia 30. Depois que a festividade terminou, a vizinhança, que parecia tranquila, se transformou.

A mãe do aniversariante relembra dos sons da madrugada. Ela diz que primeiro acreditou serem bombinhas ou até mesmo uma briga nas proximidades da casa.

"Para mim era bombinha, essas coisas. Porque sempre tem festa lá né? Eu achei que era briga de alguém, essas coisas. Depois que eu abri a porta e saí lá fora, aí eu vi que não era nada disso. Eu só vi fogo voando pra cima. Aí eu falei que era tiro, meu marido até assustou. O meu cunhado escondeu atrás do colchão, que ele estava com medo", relembrou a dona de casa, que não quis se identificar.

Um homem que preferiu não se identificar e estava na casa dele na madrugada da operação. Ele lembra que pensou serem fogos de artifício, mas ao olhar para o céu, não conseguiu vê-los. Ele disse ter ouvido um pedido de socorro.

"Eu escutei barulhos de fogos. Eu falei: "O pessoal tá fazendo festa no rancho até agora?" Mas não tinha brilho. Eu falei: "Os barulhos não estão parecendo ser fogos não. Deve ser tiros". E aí a gente fica pensando, falando, onde será que é? E junto com eles ouvi um grito. Sabe um grito bem assim de terror mesmo. Tipo: "Socorro". E parou e cessou. Foi só isso e acabou. Foi o que eu ouvi", relatou.

Os dois sítios utilizados pelos 26 suspeitos de integrar quadrilha de roubos a bancos mortos em Varginha ficam cerca de 20 quilômetros de distância um do outro. Os locais estão em duas diferentes saídas da cidade. Essa estratégia, segundo o Batalhão de Operações Especiais (Bope), pode ter sido pensada para possível fuga após o crime. Um dos possíveis alvos dos homens era um centro de distribuição do Banco do Brasil.

Agência Banco do Brasil em Varginha (MG) seria um dos possíveis alvos dos suspeitos, segundo a polícia

Franco Junior/g1

Em um dos locais, 18 suspeitos foram mortos. Já no outro, foram oito mortos. Dentre eles o caseiro Adriano Garcia, que era morador de Varginha. Ele foi apontado pela polícia como integrante da quadrilha, o que causou surpresa para quem o conhecia. Como é o caso do barbeiro que diz ter cortado o cabelo dele dias antes da morte.

"Para mim foi um dia normal, estava trabalhando, tinha gente aqui. Um deles que não sei quem era parou e deixou o rapaz. Deram dinheiro para ele, o portão estava aberto, ele entrou, cortou o cabelo, saiu, eu não vi mais, só isso. O caseiro entrou aqui, cortou cabelo e foi embora. Normal, ele já era cliente meu, só andava para rua com o cachorro e trabalhava de catar sucata, isso era a vida que eles falam que era caseiro. [Ele era] simples demais, eu nem imaginava que esse rapaz estava nesse lugar, seria caseiro. [Reconheci ele depois] pelas fotos. Meu sentimento foi de pesar, ele era um coitado, vivia para rua, lutando para viver", falou o profissional, que também não quis se identificar.

Arsenal de guerra

Nos locais utilizados pelos suspeitos, a polícia apreendeu um arsenal de guerra. Conforme a Polícia Militar, os homens tinham uniformes, coletes balísticos, coturnos e roupas camufladas. Além disso, tinham carregadores já municiados e armamentos de todos os calibres, como fuzis, escopetas e também "miguelitos", usados para furar pneus de viaturas.

Uma dona de casa que aluga imóvel nas proximidades de um dos sítios, disse que se assustou ao saber do armamento mantido com os suspeitos. Na madrugada da operação, ela relembra que ouviu o tiroteio por cerca de meia hora e garante que não vai esquecer do dia.

"Eu estou com medo, minha vizinha lá está com medo, sabe? A gente não está dormindo mais lá e era tão bom dormir lá [na casa que aluga no local]. Eu não me sinto segura indo para lá mais não", disse.

"Nós acordamos com aquele tiroteio. A gente saiu lá fora, muitos tiros ainda. Ai eu abri o portão para ver. Aí vinha aquela quantidade de policial. Na hora que eles estavam chegando perto de mim, eu fechei o portão, entrei para dentro de novo. Aí eles levantaram assim, que eles são altos né? Levantou e perguntou para mim se tinha alguém escondido lá, se estava tudo bem. Aí eu falei: "Não, aqui tá tudo bem né? Só está eu e o marido". Aí eles foram, pulou o portão de volta e a gente voltou a dormir, né?", completou.

As marcas de tiros ainda permanecem na parede do sítio e até a casa do vizinho foi alvejada. Até a cozinha externa e o galinheiro foram atingidos pelos disparos. A perícia já desocupou os sítios.

Marcas de tiros permanecem em sítio um mês após operação que matou 26 suspeitos em Varginha (MG)

Reprodução/EPTV

Um perito aposentado da polícia civil e membro do conselho do fórum brasileiro de segurança pública, destaca que é preciso trazer mais esclarecimentos sobre a operação. Segundo ele, há muitas respostas que precisam ser respondidas.

Neste caso específico, o que se questionou muito foram alguns pontos. Por exemplo: O elevado número, que também chama muito atenção e também o fato de que a ação como todo, ela não foi divulgada de uma forma tão transparente quanto poderia ser, né? Ou seja, pensar, por exemplo, que aquele número elevado de mortes, todos tenham falecido após um socorro, né? Eu acho que é pouco provável. Então, se você imaginar pessoas que acabaram indo a óbito durante a própria ação e isso fica muito bem comprovado, né?", questionou o perito aposentado Cássio Thyone Rosa..

"A gente pode estar diante de algo que vem acontecendo com certa frequência nas operações policiais recentes. Como aconteceu em Jacarezinho, por exemplo. Onde você teve corpos que foram, entre aspas, socorridos já sem vida e isso esvazia bastante a questão da apuração que vem depois, né? Porque você não tem a perícia de local, com o cadáver no local. Você não consegue estabelecer uma dinâmica de como foi o evento de uma forma mais completa. Então, esses são pontos que a gente precisa pensar. Com relação aos corpos em si. Se fica provado que intencionalmente, aí é uma questão também importante, a palavra que eu estou usando é: Se provado, que intencionalmente as pessoas removeram os copos. Sabendo que não havia a chance de sobrevivência e nem de socorro. Então aí, isso tem que ser apurado. Essa é uma questão importante", falou.

A maior parte dos suspeitos mortos é de Minas Gerais. Entre o grupo suspeito de planejar um assalto a banco no Sul de Minas, também há pessoas de Goiás, Distrito Federal, Rondônia, São Paulo, Amazonas e Pará.

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Fonte: G1 Sul de Minas e Polícias Civil e Militar

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