Atualmente, após o acordo, restam 25 meses para que a manutenção seja feita. O assessor de Relações Institucionais e Inovação da Porto Seco, Igor Candido de Oliveira, diz acreditar que, em dois anos, o transporte já esteja sendo feito no trecho.
"A gente é otimista, acreditamos que em dois anos estaremos operando. Não estamos esperando a ferrovia para operar. Fizemos um teste na ferrovia. Pegamos 10 containers de café, embarcamos em Lavras, passando a carga do caminhão para o trem. A VLI transportou até Volta Redonda, fez o transbordo e foi levado até o porto do Rio de Janeiro. Isso já mostrou que é possível e a redução de custos, além de segurança da carga", falou.
Mapa acima mostra
como seria o
transporte do café
por trem entre
Varginha (MG) e
Angra dos Reis (RJ)
Atualmente as cargas são levadas ao porto de Santos em caminhões. A operação é feita com custos mais altos e elevado número de acidentes. A mudança pode fazer com que de dois containers por viagem de caminhão se transformem em até 160 de uma vez por trem.
"Cada bitrem [caminhão] carrega no máximo dois containers carregados. No trem, a gente consegue colocar até dois containers de até 20 peças por vagão ou um de 40 peças. Essas são compisiççoes de até 80 vagões, ou seja poderíamos levar até 160 containers", explicou Otávio Paravizo Bregalda, do setor de Qualidade e Inovação da Porto Seco.
"Hoje o custo é de R$ 3,8 mil para ir ao porto de Santos e a gente acredita que indo cheio e voltando cheio, chega a até R$ 1,5 mil para Angra dos Reis. Atualmente, o caminhão vai pela Fernão Dias para Santos e as preocupações são o custo de combustível, o número de acidentes e a questão de greve e o porto de Santos completamente sobrecarregado", completou Igor.
Leandro Cariello, sócio-proprietário do Terminal Portuário de Angra dos Reis, destaca que investimento nessa parceria tem a intenção de fazer do porto uma referência para as exportações mineiras.
"Exportar essa produção do Sul de Minas direto para o porto para Angra do Reis, via ferrovia, é muito mais barato, mais eficiente e muito mais benéfico para o meio ambiente. Eu gostaria que o porto de Angra fosse o porto de Minas Gerais. A saída para o mar de Minas Gerais vai ser o porto de Angra dos Reis, que está disponível para os produtores rurais para exportar seus produtos e também importar insumos, porque o agronegócio também importa fertilizantes, maquinários e diversos insumos, que hoje enfrentam estradas congestionadas, pedágios caros e filas nos portos habituais. A gente quer tirar tudo isso da importação pra Varginha", afirmou.
Preocupação de caminhoneiros
Bregalda destaca que os motoristas de caminhão estão preocupados com a mudança. No entanto, ele garante que o setor está envolvido e não haverá perda de frete, mas sim, viagens mais curtas.
"Todo pessoal do caminhão está envolvido, porque eles ficam com medo de que se retire e fique sem frete. Não fica sem frete, a ideia da ferrovia é canalizar o transporte mais longo e mais pesado nela, mas é preciso fazer o transporte para o cliente final. Ou seja, pegar no terminal e levar para empresas e municípios na região. Isso reduz o tempo da viagem, mas traz benefícios sociais grandes. Motorista vive dentro do caminhão, sai e fica a semana fora para levar dois containers. O trem precisa de um maquinista", disse.
Transporte de passageirosA modernização da linha férrea vai possibilitar também que seja feita viagens de passageiros pelo trecho Varginha/Angra dos Reis. O projeto defendido pela Porto Seco defende a ideia.
"Com a linha pronta, na melhor das hipóteses teríamos de seis a oito composições diárias [de café] entre idas e vindas. Distribuídos os horários, é completamente possível colocar no meio da programação um trem de passageiros. É irracional não aproveitar a estrutura", defendeu o assessor de Relações Institucionais e Inovação da Porto Seco.
Empecilho Para o início das operações, com a linha reformada, um dos empecilhos é a necessidade de um capital de risco alto, previsto em cerca de R$ 200 milhões para a empresa interessada em administrar a operação da ferrovia.
"Há uma barreira de entrada. É preciso de um investimento inicial alto. No setor rodoviário é simples, um caminhão e já está em operação. No ferroviário, não dá para comprar um vagão, uma locomotiva e operar. É preciso que uma empresa faça um grande investimento. A mesma empresa precisa ficar com operação, locomotiva, transporte. Em outros países cada empresa pode fazer uma função. Mas aqui, existe essa questão. Temos a disposição de fazer a operação, porque não precisamos comprar o material para fazer quatro composições. Podemos começar com um material", frisou Igor.
Para saber se vale a pena o investimento, Guilherme Vivaldi, coordenador do Grupo de Estudos Econômico do Sul de Minas, foi contratado e um estudo foi feito. Segundo ele, de 155 cidades do Sul de Minas, só 12 não produzem café. Do total, 50 exportam a bebida.
"Utilizar o modal ferroviário pode reduzir até 40% do custo de frete para transportar o café e buscar o adubo nos portos. Então hoje a gente tem uma grande importação de adubos para utilizar nos cafés do Sul de Minas, ao mesmo tempo que exportamos café para o exterior. Se a gente usa o trem levando o café e buscando, a gente chega ter até 40%, além de todos os benefícios voltados para a área de mobilidade urbana, reduzindo o número de caminhões, acidentes na estrada e poluição, porque os trens atualmente são politicamente corretos", explicou.