Entenda a diferença entre a jiboia e a píton, cobra levada para 'passear' por morador em Itajubá

Por Jornalista Alair de Almeida, Diretor e Editor do Jornal Região Sul em 24/06/2022 às 14:50:24
Imagens fizeram com que a PM ambiental solicitasse mandado de busca e apreensão para investigar o caso. Morador leva cobra para passear pelas ruas de Itajubá (MG)

As imagens de um morador de Itajubá (MG) levando uma cobra para passear nesta semana pelas ruas da cidade repercutiram nas redes sociais e fizeram com que a Polícia Militar Ambiental solicitasse um mandado de busca e apreensão para investigar o caso. Segundo denúncias, a cobra teria sido comprada de forma ilegal e estaria com ferimentos.

Diferente dos primeiros relatos, a cobra que aparece nas imagens não é uma jiboia e sim uma píton, que é uma espécie que vive no Sudeste e Sudoeste da Ásia. Ela é considerada rara e classificada como exótica pelo Ibama. A píton pode atingir até oito metros de comprimento.

A importação e criação da cobra píton são proibidas no Brasil, exceto em casos autorizados pela fiscalização ambiental. Por não ser nativa do país, esta espécie de cobra pode causar desequilíbrio ambiental caso seja solta em lugar impróprio.

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O que dizem os especialistas?

Segundo especialistas ouvidas pelo g1, características específicas do animal dão a certeza de que essa cobra é um píton exótica, que não ocorre no Brasil.

"É uma píton sim, não se trata de uma jiboia, [é] um animal exótico, não ocorre no Brasil naturalmente. Além de características mais técnicas, como por exemplo o padrão de escamas pelo corpo do animal, esse padrão é diferente de uma espécie para outra, além disso tem como diferenciá-las através do padrão de coloração e dos desenhos do corpo", explicou a bióloga Juliana Terra, doutora em ecologia pela Universidade de São Paulo (USP).

Morador leva cobra para passear pelas ruas de cidade no interior de MG

Reprodução / Redes Sociais

Já de acordo com a bióloga e professora Ana Barbara Barros, de Pouso Alegre, a píton seria um parente "distante" de outras famílias de serpentes que ocorrem no Brasil, como a jiboia e a sucuri.

"A família pythonidae [à qual pertence a píton] ocorre somente fora do Brasil, no Sudoeste Asiático. Nós temos aqui no Brasil a família mais próxima, que é a familia dos boídios. Na família boidae, nós temos representantes como jiboias, sucuris, a cobra-papagaio, salamantas, que são serpentes que caçam por constrição, não tem veneno, mas são muito grandes e com esse tamanho matam a presa por asfixia", disse a especialista e mestre em herpetologia, ramo da zoologia dedicado ao estudo dos répteis e anfíbios.

Bióloga mestre em anfíbios e répteis explicou diferença entre as espécies de cobras

Arquivo pessoal

Levar para passear é correto?

Segundo Juliana Terra, levar um animal como esse para as ruas não é a atitude mais correta, já que serpentes não são animais sociáveis como cachorros, por exemplo.

"Não é indicado levar serpentes para passear nas ruas desta forma. Serpentes, ao invés de cachorros, não são animais sociais, elas não exibem interações com outros membros de sua espécie, nem com seres humanos. Essa serpente no meio de uma agitação, de várias pessoas em volta, [isso] pode acabar estressando o animal e se esse estresse for frequente, pode inclusive gerar problemas de saúde para ele. Submetendo o animal a estresse constante, ele pode acabar desenvolvendo problemas de saúde", disse a especialista.

Juliana ressalta que animais como a píton costumam ser dóceis com seres humanos, mas não é bom abusar.

"Não tem como garantir o comportamento dela. De forma geral, as pítons criadas em cativeiro são bastante dóceis, elas são dóceis com seres humanos, não costumam atacar, só que às vezes as coisas podem fugir do previsto, do esperado. Por exemplo, se uma das pessoas tiver acabado de passar em um açougue e pegou em um pedaço de frango e está com aquele cheiro na mão, vai querer pegar o animal e por confusão o animal pode querer atacar a pessoa, ou em uma situação de muito estresse"

"Além desse possível risco com acidente com algum ser humano, pode também acontecer algum acidente com outros animais domésticos, algum cachorro, gato, que passe ali, tem também esse contexto dos animais que possam estar em volta", ressaltou a especialista.

Como esses animais devem ser criados?

Ainda conforme a especialista Juliana Terra, a recomendação é que esses animais sejam criados em locais específicos.

"O indicado é que alguém que for criar uma serpente em cativeiro disponibilize um local adequado para manter esse animal em casa, com condições adequadas para esses animais. Por exemplo, serpentes são animais ectotérmicos, em geral elas não regulam o calor delas metabolicamente, elas não produzem calor metabolicamente, elas dependem de fontes externas de calor, então o ambiente precisa ser monitorado, precisa ter a temperatura controlada, a umidade controlada, por exemplo", explicou.

"Em se tratando de uma píton, que é um animal grande, precisa disponibilizar um espaço muito grande, porém sempre disponibilizando todas as condições adequadas em cativeiro. Não é recomendado, adequado, levar esses animais para passear, não existe, não tem essa necessidade".

Conforme a bióloga Ana Barbara Barros, esses animais atiçam o interesse de criadores justamente por se tratarem de animais exóticos.

"Essas pítons são alvos de criadores, pets [pet shops] e tudo mais exatamente por serem animais exóticos e por não serem do Brasil, acabam se tornando um alvo muito requisitado por esse grupo que gosta de criar animais em casa e até mesmo por zoológicos", afirma a bióloga.

Fonte: G1 Sul de Minas e Prefeitura Municipal / Ibama

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