Ao todo, 39 policiais foram indiciados, sendo 23 policiais rodoviários federais e outros 16 policiais militares que pertencem ao Bope (Batalhão de Operações Especiais), pelos crimes de homicídio qualificado, tortura e fraude processual.
A investigação da Polícia Federal concluiu haver indícios de que os policiais plantaram armas no local do crime e forjaram disparos para justificar a letalidade da ação.
Segundo a PRF, depois desse período de afastamento, a corregedoria-geral constatou ausência de impedimentos legais para o retorno dos agentes às suas atividades operacionais.
Ainda conforme a PRF, como também não havia manifestação do Ministério Público Federal, da Polícia Federal ou da Justiça Federal para manutenção do afastamento preventivo, "autorizou o retorno às atividades operacionais, sem prejuízo para o andamento dos trabalhos correicionais".
Os agentes continuam respondendo a um Processo Administrativo Disciplinar (PAD). A investigação sobre o caso prossegue.
Mais Detalhes da Operação:
- Mortes, tortura e alteração das cenas do crime: PF detalha ação de policiais que terminou com 26 mortos em MG
- Suspeitos de roubos a bancos são mortos durante troca de tiros com PM, PRF e Bope em Varginha, MG
- PF intima militares a prestar depoimento sobre operação com 26 mortes em Varginha, mas policiais não comparecem
/i.s3.glbimg.com/v1/AUTH_59edd422c0c84a879bd37670ae4f538a/internal_photos/bs/2021/P/x/7GfyLnQVyScSvd68m0Kw/dsc-0702.jpg)
Armamento utilizado por suspeitos de integrar quadrilha de roubos a bancos que foram mortos em Varginha (MG) — Foto: Franco Junior/g1
A operação conjunta entre Polícia Militar, Polícia Rodoviária Federal e Batalhão de Operações Policiais Especiais (Bope) resultou na morte de 26 pessoas suspeitas de pertencerem a uma quadrilha de roubos a bancos no dia 31 de outubro de 2021 em Varginha (MG).
De acordo com a PM, os suspeitos seriam especialistas neste tipo de crime. Um arsenal "de guerra" também foi apreendido com a quadrilha.
Segundo a Polícia Rodoviária Federal, os confrontos com os homens ocorreram em duas abordagens diferentes.
Na primeira, os suspeitos atacaram as equipes da PRF e da PM, sendo que 18 criminosos morreram no local.
Em uma segunda chácara, conforme a PRF, foi encontrada outra parte da quadrilha e neste local, após intensa troca de tiros, oito suspeitos morreram.
Durante as duas abordagens, foram recuperados, explosivos, armas longas ponto 50 e 10 fuzis, além de outras armas, munições, granadas, coletes, miguelitos e 10 veículos roubados
O relatório aponta que aproximadamente 500 disparos foram efetivados pelos agentes do Estado e somente 20 disparos foram atribuídos às armas dos suspeitos.
Nenhum policial ficou ferido na ação.
O documento também diz que os criminosos foram surpreendidos com a chegada da polícia e foram alvejados.
Dentre eles, o caseiro Adriano Garcia, que não tinha nada a ver com a situação, também foi morto.
Ainda conforme a PF, não houve a forte resistência com armas longas por parte dos suspeitos, conforme alegado pelas forças de segurança na época e não existem indícios de que um combate aconteceu.
No documento, a PF afirma que os fatos investigados, na forma como ocorreram e considerando o envolvimento das personagens que deles participaram, não possuem precedentes na história nacional.
"Por tudo quanto até aqui apurado, não restam dúvidas: todos que ingressaram nas edificações e seus perímetros mais próximos queriam o resultado morte para todos que ali estavam. Há indivíduos que levaram vários tiros provenientes de vários atiradores. Logo, vários queriam as mortes destes. A disposição dos corpos também é clara: a equipe policial foi 'varrendo' o perímetro e abrindo fogo em quem estivesse à frente", aponta o relatório.
O relatório da PF afirma que no dia 31 de outubro de 2021, por volta de 5h, aproximadamente 40 policiais entraram em um sítio no bairro Recanto Dourado, em Varginha (MG) e lá mataram 18 indivíduos que se preparavam para executar um grande roubo na cidade.
Na sequência, um grupo formado por 12 destes policiais rumou para um segundo sítio no bairro Lagoinha, e lá foram mortos mais oito suspeitos.
No relatório, a PF narra as dificuldades encontradas pelos investigadores, já que nenhum membro do bando remanesceu no local com vida e inexistiam testemunhas oculares, salvo os policiais investigados.
/i.s3.glbimg.com/v1/AUTH_59edd422c0c84a879bd37670ae4f538a/internal_photos/bs/2021/T/9/oMIel4QsaI0VviTLwKog/armamento-varginha.jpeg)
Agentes recuperaram armamentos e munições que estavam em posse da quadrilha durante a ação — Foto: Divulgação/Polícia Militar
A investigação da Polícia Federal também apontou inconsistência nos depoimentos dos policiais que participaram da ação em Varginha.
O relatório também afirma que os criminosos não dispunham de armas quando as forças policiais entraram nos imóveis e que houve adulteração dos locais de crime por parte dos policiais.
O documento afirma que disparos de armas de fogo atribuídos aos criminosos também foram adulterados pelos policiais.
A Polícia Federal afirma no inquérito que não houve efetivo socorro aos feridos.
O relatório afirma ainda que a quase totalidade dos profissionais das unidades que receberam os corpos (Hospital Bom Pastor e UPA Varginha), que trabalhou no dia dos eventos, foi ouvida no inquérito.
A PF afirma que todos os policiais que estiveram nos locais dos crimes imediatamente após os eventos de tiro agiram para dificultar os trabalhos investigativos.
Aqueles que estiveram nos locais, ainda que não tenham participado da inovação e adulteração desses locais, por omissão dolosa, contribuíram para o resultado criminoso.
/i.s3.glbimg.com/v1/AUTH_59edd422c0c84a879bd37670ae4f538a/internal_photos/bs/2021/a/g/LCBKexQBe9BN2FW03wRw/armamento-4.jpg)
Armamento apreendido durante operação da PM e PRF que resultou na morte de 26 suspeitos de roubo a bancos em Varginha (MG) — Foto: Tarciso Silva/EPTV
O que disseram
as autoridades
À época, em nota, a Polícia Rodoviária Federal informou que a Corregedoria-geral da PRF reabriu procedimento apuratório ainda em 2023 frente ao surgimento de novas evidências.
A PRF destacou ainda o compromisso com os limites constitucionais e a defesa do estado democrático de direito, incluídos o princípio da presunção de inocência dos agentes, a garantia ao devido processo legal, ao contraditório e à ampla defesa.
A Polícia Militar informou que acompanha o caso. Segundo a Polícia Federal, o inquérito foi relatado e encaminhado às autoridades.
O Ministério Público Federal informou que recebeu o relatório policial e que ele seria analisado para verificar se serão necessárias novas diligências.