Enem 2024: tema da redação Ă© atual e apropriado, avaliam professores

O tema da redação do Exame Nacional do Ensino MĂ©dio (Enem) deste ano, "Desafios para a valorização da herança africana no Brasil", proposto pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais AnĂ­sio Teixeira (Inep), é "pertinente", "atual", "apropriado", "interessante", "necessĂĄrio", "urgente" e "Pedagógico.

Por Jornalista Alair de Almeida, Diretor e Editor do Jornal Região Sul em 04/11/2024 às 01:39:54

O tema da redação do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) deste ano, "Desafios para a valorização da herança africana no Brasil", proposto pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais AnĂ­sio Teixeira (Inep), é "pertinente", "atual", "apropriado", "interessante", "necessĂĄrio", "urgente" e "pedagógico".

As palavras são de professores ouvidos pela AgĂȘncia Brasil em BrasĂ­lia e em São Paulo, que avaliam que o assunto proposto na redação do Enem permite aos alunos demonstrarem suas competĂȘncias textuais e refletirem sobre a realidade brasileira.

Professora Analu Varga diz que tema da redação propõe reflexão sobre funcionamento da sociedade - Foto arquivo pessoal

Professora de redação do SEB, em BrasĂ­lia, Analu Vargas avalia que o tema escolhido "propõe reflexão acerca do funcionamento da sociedade". "Estamos falando de uma necessidade de valorizar a herança da cultura africana. Isso abre bagagem para se abordar também preconceito, o racismo, que é um crime, e tratar de processos que chamamos de resquĂ­cios pós-escravidão."

A coordenadora e professora de redação do PB Colégio e Curso em São Paulo, Juliana Rettich, acredita que o Enem, com suas temĂĄticas de redação, tem carĂĄter pedagógico para toda a sociedade brasileira; e que este ano o Inep acertou novamente ao propor um tema que pode se transformar em pauta para reportagens de diferentes veĂ­culos de comunicação.

"Sabemos que temos trĂȘs matrizes culturais no Brasil, mas ainda vivemos sob o que podemos chamar de colonialidade, um regime de poder que continua a subalternizar os povos racializados, como os povos africanos. Nas nossas aulas de redação, trabalhamos a partir da perspectiva da descolonização e da decolonialidade, discutindo a problemĂĄtica dos currĂ­culos eurocentrados nas escolas e nas universidades. Diante disso, o nosso primeiro desafio é combater o epistemicĂ­dio, o assassinato do conhecimento, história e cultura produzidos pelos povos africanos e afrodiaspóricos", aponta a docente.

Racismo estrutural

Coordenadora de redação e professora do Colégio Etapa, em São Paulo, Nayara de Barros, destaca que hĂĄ vĂĄrios tópicos a serem explorados no tema do Enem. "Os estudantes poderiam tratar do debate racial que tem havido no campo da educação. O próprio conceito de racismo estrutural poderia ser mencionado, em relação ao racismo como parte da estrutura social, um sistema que se manifesta nas relações polĂ­ticas, econômicas e jurĂ­dicas, que vai se apresentar também como um desafio à valorização dessa herança nas mais diversas instâncias."

Colega de trabalho de Nayara no Etapa, Luiz Carlos Dias acrescentou que o assunto da redação também diz respeito aos Objetivos de Desenvolvimento SustentĂĄvel (ODS) das Nações Unidas. Segundo ele, o ODS 18 "prima pela igualdade étnico-racial".

"Então, para que haja a valorização da cultura africana, temos que entender que os povos africanos são marginalizados historicamente no Brasil, desde o mercado de escravizados", afirma o professor.

Hagda Vasconcelos, professora em BrasĂ­lia, avalia que tema da redação não surpreendeu - Bruno Peres/AgĂȘncia Brasil

Para Hagda Vasconcelos, professora do Colégio Galois, em BrasĂ­lia, o tema "não surpreendeu" porque é uma "problemĂĄtica persistente" no Brasil. "O Enem é uma prova muito democrĂĄtica. É uma prova que coloca em questão aquilo que é necessĂĄrio ser discutido."

Na avaliação dela, os estudantes brasileiros estão preparados. "Nós temos de trabalhar a educação antirracista. Valorizar o personagem negro. Valorizar o cientista negro. Eu acredito que os meninos estão bem preparados, bem embasados para produzir esse texto", diz Hagda, considerando o conteĂșdo ensinado de acordo com a Base Nacional Comum Curricular (BNCC), que define as diretrizes e os assuntos que devem ser abordados em todas as escolas brasileiras – seja pĂșblica ou privada.

"Eu gostei muito do tema. É muito apropriado. É um tema que ampara as nossas discussões", avalia Gilmar Félix, professor de lĂ­ngua portuguesa da Secretaria de Educação do Distrito Federal e também do Colégio Marista de BrasĂ­lia. O docente lembra que hĂĄ uma lei desde 2003 que estabelece a obrigatoriedade do ensino de cultura africana, além da cultura indĂ­gena, nas escolas brasileiras.

"Nós, que somos do movimento negro e que somos professores, queremos uma legitimação desse ensino. O tema não vai ficar só na questão de falar de ensino da cultura africana, mas vai entrar na questão da educação antirracista", ressalta.

Visão hierĂĄrquica

O docente, no entanto, aponta que "a sociedade tem uma dificuldade em lidar com o tema." E que a abordagem de assuntos em sala de aula pode variar de escola em escola e até conforme a disposição dos docentes. "Alguns professores não querem debater o tema. Na nossa sociedade ainda tem indivĂ­duos que mantĂȘm uma visão hierĂĄrquica, de achar, por exemplo, que o papel e o lugar do negro são sempre aqueles que teve ao longo da escravidão", lamenta.

Professor Gilmar Félix diz que tema da redação do Enem ajuda a desconstruir tendĂȘncia hierĂĄrquica - Foto arquivo pessoal

Para Gilmar Félix, a redação do Enem, ao fazer os estudantes olharem para as heranças culturais africanas e a necessidade da valorização, "ajuda a desconstruir essa tendĂȘncia hierĂĄrquica."

O docente alerta que, caso algum aluno não tenha desenvolvido a proposta, ainda que escrevendo sem erros de portuguĂȘs e com argumentação, corre o risco de ser eliminado ou ter nota baixa por apenas ter "tangenciado o assunto."

"A competĂȘncia 2 e a competĂȘncia 3 [exigidas pelo Inep] vão cobrar justamente que ele trabalhe com repertórios legitimados. Não dĂĄ para o aluno vir com achismo. O bom repertório é aquele repertório que é legitimado."

A competĂȘncia 2 exige que o candidato interprete corretamente o tema e traga uma abordagem integral em relação a todas as palavras-chave contidas no tema e faça uma escolha adequada de repertórios capazes de contextualizar essa interpretação contida no tema. A competĂȘncia 3 é uma adequada formatação de um projeto de texto que prevĂȘ a construção de uma introdução que apresente o tema, a tese e os argumentos, que aborde a problematização no desenvolvimento e depois caminho para o desfecho de intervenção.

Fonte: AgĂȘncia Brasil

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