PF faz operação para investigar denúncia de vacinação ilegal de empresários do transporte em BH

O avanço do COVID-19 no Brasil

Por Jornalista Alair de Almeida, Editor e Diretor do Jornal Região Sul em 26/03/2021 às 07:51:25

Vídeo mostra movimentação anormal em garagem onde teria acontecido a vacinação clandestina
A Polícia Federal (PF) faz, na manhã desta sexta-feira (26), buscas em endereços ligados à Viação Saritur, em Belo Horizonte. A corporação investiga se empresários do setor do transporte foram vacinados ilegalmente contra a Covid-19.

Antes das 6h, policiais saíram da sede da PF, na Região Oeste de Belo Horizonte. Um dos locais em que os policiais cumprem mandados é a garagem da empresa, no bairro Caiçara, na Região Noroeste da capital. O endereço é onde teria ocorrido a vacinação. Imagens internas de segurança serão recolhidas para tentar comprovar o episódio.

PF faz operação para investigar denúncia de vacinação ilegal de empresários do transporte em BH — Foto: Reprodução/TV Globo

PF faz operação para investigar denúncia de vacinação ilegal de empresários do transporte em BH — Foto: Reprodução/TV Globo

A Operação Camarote objetiva apurar a suposta importação e administração irregular de vacinas. A suspeita é de que houve importação irregular de doses da Pfizer e receptação, segundo a PF.

Policiais federais chegam à garagem da empresa Saritur, em BH — Foto: Reprodução/TV Globo

Policiais federais chegam à garagem da empresa Saritur, em BH — Foto: Reprodução/TV Globo

A PF investiga se houve importação de mercadoria proibida, caso a eventual importação das doses tenha ocorrido antes a aprovação da lei que trata sobre a compra de vacinas por pessoas jurídicas, de descaminho, caso tenha sido após aprovação da lei, ou ainda se houve falsificação ou adulteração de produto destinado a fins terapêuticos ou medicinais, caso o episódio tenha ocorrido antes do registro da vacina da Pfizer na Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). Também é apurada suspeita de receptação pelas pessoas que receberam a vacina.

Denúncia

A informação sobre a vacinação dos empresários foi publicada na edição on-line da revista Piauí. O Ministério Público Federal (MPF) também investiga a denúncia.

De acordo com a reportagem, um grupo de políticos e empresários, a maioria ligada ao setor de transporte de Minas Gerais, e seus familiares, teriam tomado a primeira das duas doses da vacina contra Covid.

Policiais federais fazem buscas na garagem da Saritur — Foto: Reprodução/TV Globo

Policiais federais fazem buscas na garagem da Saritur — Foto: Reprodução/TV Globo

Ainda segundo a reportagem, cada vacina custou R$ 600 e a segunda dose está prevista para ser aplicada nas cerca de 50 pessoas daqui a 30 dias. A revista afirma ainda que a vacina aplicada seria da Pfizer. A Pfizer negou a venda de vacinas fora do Programa Nacional de Imunização (PNI).

Entre os vacinados, segundo a Piauí, estaria o ex-senador e ex-presidente da Confederação Nacional do Transporte (CNT), Clésio Andrade. Ao G1, ele disse que desconhece o assunto e que está em quarentena, no Sul de Minas, há dois meses.

Governo assina contratos de compra de 138 milhões de doses de vacinas da Pfizer e Janssen — Foto: JN

Governo assina contratos de compra de 138 milhões de doses de vacinas da Pfizer e Janssen — Foto: JN

À revista Piauí, Andrade afirmou: "Estou com 69 anos, minha vacinação [pelo SUS] seria na semana que vem, eu nem precisava, mas tomei. Fui convidado, foi gratuito para mim". Questionado pela TV Globo, o ex-senador não confirmou a declaração.

E, de acordo com a Piauí, os organizadores da vacinação foram os donos da viação Saritur. Um deles, Rubens Lessa, é presidente do Sindicato das Empresas de Transporte de Passageiros Metropolitano. Por mensagem ao G1, ele se limitou a dizer: "Tenho conhecimento deste assunto".

A TV Globo confirmou que houve uma movimentação anormal em uma das garagens de ônibus da Viação Saritur na última terça-feira. Um movimento que chamou a atenção dos vizinhos.

"Minha amiga me chamou perguntando se estava tendo vacinação noturna, drive-thru, e eu falei com ela que não, que não tem vacinação à noite, que o posto só funciona até 19h e a vacinação é até as 15h30. Ela falou, 'Não, então tem alguma coisa errada, vem cá para você ver', disse uma mulher, que preferiu não se identificar.

Um vídeo mostra a fila de veículos no estacionamento. Em uma das vagas, uma pessoa com jaleco branco retira algo do porta malas. Ela dá a volta e para em frente ao motorista e faz um movimento parecido com o que seria a aplicação de uma vacina.

O local que aparece nos vídeos é uma das garagens da Viação Saritur, na Região Noroeste de Belo Horizonte, e teria sido improvisado como posto de vacinação.

Um boletim de ocorrência foi registrado no dia da suposta vacinação. De acordo com o documento, os seguranças disseram aos policiais que houve uma pequena reunião dos diretores da empresa, mas que todos já haviam deixado o local quando os policiais chegaram. Na saída, os policiais foram abordados por um morador que confirmou ter visto no pátio da empresa aproximadamente 25 veículos com seus condutores e passageiros, sendo vacinados por uma mulher de jaleco branco. E que crianças também foram vacinadas. Os policiais entraram na empresa, mas nada foi constatado pelas equipes.

De acordo com o Ministério Público Federal (MPF), caso a vacinação seja confirmada, os envolvidos poderão responder pelo crime de contrabando, descaminho e de uso e importação de medicamento farmacêutico sem registro.

Fiscalização

Vacina da Pfizer contra Covid-19 é a primeira a receber registro definitivo no Brasil — Foto: JN

Vacina da Pfizer contra Covid-19 é a primeira a receber registro definitivo no Brasil — Foto: JN

A Guarda Municipal de Belo Horizonte disse em nota que foi acionada na terça-feira, mas ao chegar na garagem onde estaria acontecendo a imunização, a Polícia Militar já havia chegado no local.

"Os militares relataram que estavam apurando a mesma denúncia, recebida via 190. Os guardas e policiais entraram na garagem e não havia mais nenhuma movimentação. Por isso a PM registrou a ocorrência e ficou responsável por conduzir o caso", disse.

A Polícia Militar disse que "procedeu ao registro do evento de defesa social, REDS, e direcionou à polícia judiciária para providências subsequentes".

A Polícia Civil informou que "está verificando a eventual existência de crime, cuja investigação possa ser de sua competência legal".

O empresário Rubens Lessa, em nota, afirmou que o "endereço da empresa mencionado na reportagem não pertence ao Grupo Empresarial SARITUR, esclarece que os nomes citados na reportagem não fazem parte da direção do Grupo e que, o assunto tratado na matéria, era de total desconhecimento da diretoria da empresa".

Fonte: G1 Minas, Polícias Civil e Militar e Revista Piauí

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