PF faz operação
para investigar
denúncia de
vacinação ilegal
de empresários
do transporte em BH
Operação é realizada em endereços ligados à Viação Saritur. Polícia e MPF investigam se houve aplicação de doses em garagem da empresa.
Antes das 6h, policiais saíram da sede da PF, na Região Oeste de Belo Horizonte. Um dos locais em que os policiais cumprem mandados é a garagem da empresa, no bairro Caiçara, na Região Noroeste da capital. O endereço é onde teria ocorrido a vacinação. Imagens internas de segurança serão recolhidas para tentar comprovar o episódio.
PF faz operação para investigar denúncia de vacinação ilegal de empresários do transporte em BH — Foto: Reprodução/TV Globo
A Operação Camarote objetiva apurar a suposta importação e administração irregular de vacinas. A suspeita é de que houve importação irregular de doses da Pfizer e receptação, segundo a PF.
Policiais federais chegam à garagem da empresa Saritur, em BH — Foto: Reprodução/TV Globo
A PF investiga se houve importação de mercadoria proibida, caso a eventual importação das doses tenha ocorrido antes a aprovação da lei que trata sobre a compra de vacinas por pessoas jurídicas, de descaminho, caso tenha sido após aprovação da lei, ou ainda se houve falsificação ou adulteração de produto destinado a fins terapêuticos ou medicinais, caso o episódio tenha ocorrido antes do registro da vacina da Pfizer na Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). Também é apurada suspeita de receptação pelas pessoas que receberam a vacina.
Denúncia
A informação sobre a vacinação dos empresários foi publicada na edição on-line da revista Piauí. O Ministério Público Federal (MPF) também investiga a denúncia.
De acordo com a reportagem, um grupo de políticos e empresários, a maioria ligada ao setor de transporte de Minas Gerais, e seus familiares, teriam tomado a primeira das duas doses da vacina contra Covid.
Policiais federais fazem buscas na garagem da Saritur — Foto: Reprodução/TV Globo
Ainda segundo a reportagem, cada vacina custou R$ 600 e a segunda dose está prevista para ser aplicada nas cerca de 50 pessoas daqui a 30 dias. A revista afirma ainda que a vacina aplicada seria da Pfizer. A Pfizer negou a venda de vacinas fora do Programa Nacional de Imunização (PNI).
Entre os vacinados, segundo a Piauí, estaria o ex-senador e ex-presidente da Confederação Nacional do Transporte (CNT), Clésio Andrade. Ao G1, ele disse que desconhece o assunto e que está em quarentena, no Sul de Minas, há dois meses.
Governo assina contratos de compra de 138 milhões de doses de vacinas da Pfizer e Janssen — Foto: JN
À revista Piauí, Andrade afirmou: "Estou com 69 anos, minha vacinação [pelo SUS] seria na semana que vem, eu nem precisava, mas tomei. Fui convidado, foi gratuito para mim". Questionado pela TV Globo, o ex-senador não confirmou a declaração.
E, de acordo com a Piauí, os organizadores da vacinação foram os donos da viação Saritur. Um deles, Rubens Lessa, é presidente do Sindicato das Empresas de Transporte de Passageiros Metropolitano. Por mensagem ao G1, ele se limitou a dizer: "Tenho conhecimento deste assunto".
A TV Globo confirmou que houve uma movimentação anormal em uma das garagens de ônibus da Viação Saritur na última terça-feira. Um movimento que chamou a atenção dos vizinhos.
"Minha amiga me chamou perguntando se estava tendo vacinação noturna, drive-thru, e eu falei com ela que não, que não tem vacinação à noite, que o posto só funciona até 19h e a vacinação é até as 15h30. Ela falou, 'Não, então tem alguma coisa errada, vem cá para você ver', disse uma mulher, que preferiu não se identificar.
Um vídeo mostra a fila de veículos no estacionamento. Em uma das vagas, uma pessoa com jaleco branco retira algo do porta malas. Ela dá a volta e para em frente ao motorista e faz um movimento parecido com o que seria a aplicação de uma vacina.
O local que aparece nos vídeos é uma das garagens da Viação Saritur, na Região Noroeste de Belo Horizonte, e teria sido improvisado como posto de vacinação.
Um boletim de ocorrência foi registrado no dia da suposta vacinação. De acordo com o documento, os seguranças disseram aos policiais que houve uma pequena reunião dos diretores da empresa, mas que todos já haviam deixado o local quando os policiais chegaram. Na saída, os policiais foram abordados por um morador que confirmou ter visto no pátio da empresa aproximadamente 25 veículos com seus condutores e passageiros, sendo vacinados por uma mulher de jaleco branco. E que crianças também foram vacinadas. Os policiais entraram na empresa, mas nada foi constatado pelas equipes.
De acordo com o Ministério Público Federal (MPF), caso a vacinação seja confirmada, os envolvidos poderão responder pelo crime de contrabando, descaminho e de uso e importação de medicamento farmacêutico sem registro.
Fiscalização
Vacina da Pfizer contra Covid-19 é a primeira a receber registro definitivo no Brasil — Foto: JN
A Guarda Municipal de Belo Horizonte disse em nota que foi acionada na terça-feira, mas ao chegar na garagem onde estaria acontecendo a imunização, a Polícia Militar já havia chegado no local.
"Os militares relataram que estavam apurando a mesma denúncia, recebida via 190. Os guardas e policiais entraram na garagem e não havia mais nenhuma movimentação. Por isso a PM registrou a ocorrência e ficou responsável por conduzir o caso", disse.
A Polícia Militar disse que "procedeu ao registro do evento de defesa social, REDS, e direcionou à polícia judiciária para providências subsequentes".
A Polícia Civil informou que "está verificando a eventual existência de crime, cuja investigação possa ser de sua competência legal".
O empresário Rubens Lessa, em nota, afirmou que o "endereço da empresa mencionado na reportagem não pertence ao Grupo Empresarial SARITUR, esclarece que os nomes citados na reportagem não fazem parte da direção do Grupo e que, o assunto tratado na matéria, era de total desconhecimento da diretoria da empresa".
G1 Minas, PolÃcias Civil e Militar e Revista PiauÃ