Justiça nega pedido de família que faz campanha para conseguir remédio de R$ 15 milhões para criança em Varginha; pai faz desabafo

Enrico tem 5 anos e é morador de Varginha (MG). Ele foi diagnosticado com Distrofia Muscular de Duchenne que causa fraqueza muscular e, aos poucos, afeta os movimentos do corpo.

Por Alair de Almeida, Editor e Diretor do Jornal Região Sul em 24/01/2024 às 20:28:10

Para conseguir o dinheiro, a família de Varginha (MG) recorreu às redes sociais para pedir ajuda e já foi vítima até de golpe de estelionatários que tentaram se aproveitar da campanha. Várias personalidades têm ajudado a família com vídeos divulgados na internet.

'Salve Enrico': Família faz campanha para conseguir tratamento de criança com distrofia muscular rara em Varginha, MG — Foto: Reprodução EPTV

'Salve Enrico': Família faz campanha para conseguir tratamento de criança com distrofia muscular rara em Varginha, MG — Foto: Reprodução EPTV

No pedido de tutela que foi negado pela Justiça Federal, a família pedia o fornecimento do medicamento Elevidys, avaliado em R$ 15 milhões, por parte da União.

O medicamento consiste em uma terapia genética de única dose que foi aprovada pela Food and Drug Administration (FDA), agência reguladora americana, em junho de 2023.

Medicamento experimental

Na decisão que rejeitou o pedido, a juíza federal Regilena Emy Fukui Bolognesi, da 11ª Vara Cível Federal de São Paulo, afirma que o medicamento pleiteado ainda é experimental e que, por isso, não tem comprovação científica de eficácia e segurança.

Ela diz ainda que o medicamento foi aprovado pela agência FDA "em decisão fundamentada não em evidências científicas, mas, na ponderação empírica dos possíveis benefícios ao fornecer acesso mais rápido à terapia, então caracterizada como promissora".

A juíza afirma que o FDA não deu a aprovação científica para o medicamento.

"Lendo-se a decisão do FDA e os outros estudos, causa estranheza a insistência de que esse medicamento seria uma cura para a doença.

Na verdade, é um entusiasmo que não deveria ser alimentado, uma vez que não há estudos comprovando.

Em tese, ele faria com que o corpo produzisse uma substância que deveria suprir outra, que quem tem a doença não produz.

No entanto, o comitê do FDA chegou a dizer que essa substância sequer é produzida naturalmente pelo corpo. Decorre que ninguém sabe afirmar o que o medicamento causa no corpo", completa.


A família informou que vai recorrer da decisão. O g1 entrou em contato com a Anvisa e atualizará esta reportagem assim que receber o retorno.


Corrida contra


o tempo e desabafo

Enquanto a família tenta conseguir o dinheiro para o medicamento, a luta é uma corrida contra o tempo. O menino Enrico tem hoje 5 anos e 4 meses e só poderia tomar a medicação antes de completar 6 anos.

Após a decisão da Justiça, o pai do garoto, Eric Cavalcantti, que também é médico, fez um desabafo nas redes sociais pedindo por ajuda para salvar a vida do filho.

"Estamos lutando pela vida do nosso filho Enrico, com a nossa campanha 'Salve o Enrico', e hoje é um dia triste, porque é o dia que nós recebemos a negativa da Justiça, em um processo que estava acontecendo por esses meses.

A gente perdeu a liminar, a gente vai recorrer e continuar lutando pelo nosso filho", disse o pai do menino.

"O que a gente quer é que ele tenha as mesmas oportunidade dos outros pacientes. O que eu peço é isso, salvem o meu filho, me ajudem. O Enrico só tem 5 anos, ele é uma criança linda, ele merece ter todo futuro que eu tive. Todos, continuem nos ajudando, eu preciso muito salvar meu filho, eu preciso muito de vocês hoje!"

O que é a Distrofia

Muscular de Duchenne?

A Distrofia de Duchenne é uma doença genética e rara que atinge em torno de 1 a cada 3 mil nascidos vivos e ocorre predominantemente em meninos.

A doença não tem cura. No Brasil, os médicos recomendam um protocolo de terapia paliativo, com o uso de medicamentos como corticoides e esteroides.


"A falta de distrofina faz com que esses músculos comecem a sofrer desgaste, por não ter esse acolchoamento. E com o tempo essa musculatura vai sendo destruída.

E ela é substituída por fibrose ou células adiposas. Em torno de 20 a 30 anos, essa pessoa pode evoluir para o óbito", explica.


E como


o medicamento ajuda?

Para que o Enrico continue bem e tenha um desenvolvimento saudável, a família está em busca de um tratamento novo, um remédio que já foi aprovado nos Estados Unidos. Ele custa R$ 17 milhões e uma única dose pode impedir a progressão da doença.

"A medicina está se modernizando aos poucos e esse tratamento vem evoluindo muito. É um tratamento inovador, é uma medicação que é usada com dose única, que tem bons efeitos ao longo de 5 anos. Os níveis de distrofina do meu filho podem melhorar em torno de 95%. Então é a medicação mais promissora do momento", explica Eric Cavalcantti, pai do Enrico e médico.

"Atualmente é uma dose única, ele foi aprovado na idade de 4 a 5 anos, mas a gente espera que aumente essa idade, estão tendo estudos para isso.

E atualmente, como a Anvisa não alterou a medicação até o momento, a gente necessita levá-lo para os Estados Unidos.

O meu desejo é que seja realizada a medicação no Brasil mesmo", completa.


O remédio ainda é experimental e está na terceira fase de pesquisa nos Estados Unidos, mas já foi aprovado pela Food and Drug Administration (FDA), instituição semelhante à Anvisa no Brasil.

Esse medicamento consiste em retirar o RNA de um vírus e, no lugar, colocar um material genético diferente, que produz a proteína distrofina – aquela que o corpo do Enrico não produz e, por isso, causa a doença.

"Adenovirus é um vírus, um vírus qualquer que hoje está aí no ar.

Eles pegam esse vírus, fica um vírus inativo, então não vai causar doença na pessoa que vai fazer essa terapia.

Vai retirar o material genético dele e substituir pelo material genético que faz a distrofina e ele vai ocupar o lugar lá no éxon desse gene e com isso recuperar a função", explica o neuropediatra Lucas Gabriel Ribeiro.

Como o custo é caro, a família decidiu criar uma campanha nas redes sociais para arrecadar o dinheiro. O objetivo, claro, é alcançar algo que não tem preço: uma vida boa e longa para o Enrico.

'Salve Enrico': Família faz

campanha para conseguir

tratamento de ccriança

"Como pai, a gente quer o melhor para o filho. Acho que todos os pais do Brasil, a gente faz tudo pelo nosso filho. Se precisar ir para qualquer país do mundo, eu vou. Se precisar abdicar da profissão, eu vou abdicar.

O foco total é o meu filho, mas eu não quero que seja só o meu filho. Quero que seja todos os pacientes, todas as crianças do país também", afirma o pai, Eric Cavalcantti.

Fonte: G1 Sul de Minas e Da Redação

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