'Eu pedia para parar e não paravam', diz ex-paciente de clínica investigada por tortura em MG

Por Marco Antônio Gomes de Carvalho em 18/06/2021 às 20:59:53
Vídeo gravado dentro da clínica mostra agressões e tortura a ex-paciente em Passos. Paciente que ficou internado em clínica para dependentes químicos fala sobre agressões

Um dos pacientes que procuraram a polícia para denunciar uma clínica de tratamento de dependentes químicos de Passos (MG) por agressões e tortura, contou detalhes do que passou no local.

"Eles pegaram e começaram a me bater. Com socos na costela, na barriga, socos nas costas. Isso foi com muita violência né? Pedindo pra parar. Eu pedi para parar e não paravam. Foi quase uma meia hora, eles 'tavam' batendo em mim. Eles me deram um coquetel e deixaram amarrado por um dia", disse o homem, que não quis ser identificado.

O homem conta que achou que as agressões não iriam parar. Segundo ele, tudo acontecia em uma sala reservada.

"Na minha cabeça passava que eles não 'ia' parar né? Elas iam continuar batendo. Não sei o que eles queriam de mim... Porque ali, já 'tava' internado. Então, eu só pensava em que acabasse logo com esse sofrimento, né", disse o homem.

Polícia Civil investiga caso de tortura de paciente internado em clínica de dependentes químicos em Passos

Reprodução EPTV

Uma mulher, parente de um ex-interno, que também não quis ser identificada, disse que desconfiou da forma como o paciente era medicado.

"'Cê' via que ele 'tava' alterado, assim uma pessoa mais lenta, uma pessoa... é, sem muita atitude, é.. não tinha atitude em nada, sabe? Bem lento mesmo. 'Cê' via.. eu sentia sabe.. várias vezes.. eu cheguei a questionar a respeito da medicação, eles falaram que não, que era abstinência, porque ele tremia bastante né", disse a mulher.

O caso ganhou repercussão depois que vídeos das agressões chegaram às redes sociais. Quem aparece nas imagens agredindo o paciente é o ex-funcionário Rubens Oliveira. Ele ja foi ouvido pela polícia e confirmou as agressões.

"Ficou nítido que houve tortura nas dependências. O vídeo é incontroverso, são imagens graves, chocantes, repugnantes, que não deixam dúvidas que houve uma tortura. Foi nas dependências? Foi, porque nós apuramos mediante as oitivas. Havia a conivência da clínica? Estamos apurando ainda" disse o delegado regional Marcos Pimenta.

A Polícia Civil pediu à Justiça a suspensão das atividades da clínica e também o afastamento do funcionário que filma as agressões. Segundo a polícia, ele trabalha no Centro Socioeducativo de Passos.

Vítima fala sobre agressões sofridas em clínica de dependentes químicos em Passos

Reprodução EPTV

"Qualquer motivação que fosse dada, não se trata a motivação com tortura. Você não vai tratar um paciente fazendo asfixia com a utilização de um saco preto na cabeça", disse Marcos Pimenta.

O Ministério Público de Minas Gerais também acompanha o caso. No dia 12 de junho, uma notícia de fato foi instaurada na Promotoria de Passos para apurar o ocorrido na clínica. Já as investigações da Polícia Civil devem ser concluídas na semana que vem.

"Nós estamos tentando angariar outros frequentadores, tanto que relatam terem sido agredidos, quanto que relatam que não, para concluir as investigações e ver se houve um caso de tortura ímpar ou se era uma conduta repetitiva, assim dizendo", concluiu o delegado.

Investigação

As agressões teriam acontecido em outubro do ano passado. As investigações começaram há cerca de três meses, mas os vídeos que mostram as agressões só vieram à tona agora. As imagens foram gravadas por outro funcionário da clínica.

A vítima teve que ser levada para a Unidade de Pronto Atendimento por causa das lesões, segundo o boletim de ocorrência registrado sobre o caso.

O paciente disse à polícia que era ameaçado por funcionários e que as agressões são práticas comuns na clínica, com torturas físicas e psicológicas. O boletim cita ainda choques elétricos contra os internos da clínica.

O que diz a clínica

A Clínica Doze Pilares divulgou uma nota afirmando que repudia a prática de qualquer ato de violência e que os dois funcionários foram demitidos.

Na nota, assinada pela sócia da empresa, Gleida Dias Souza, ela diz que a clínica está à disposição para cooperar nos trabalhos de investigação.

O ex-funcionário da clínica, Rubens Oliveira, que aparece agredindo o paciente nas imagens, foi contactado pela EPTV Sul de Minas, Afiliada Rede Globo, mas não respondeu aos questionamentos.

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