Estudo alerta para necessidade de doses de reforço contra covid-19

Um estudo sobre a efetividade da vacina monovalente original contra a covid-19 comprovou uma recomendação jĂĄ divulgada e defendida por especialistas em imunização e pelo MinistĂ©rio da SaĂșde mas ainda não seguida por parte dos residentes no Brasil: a dose de reforço Ă© essencial para se proteger contra a doença.

Por Jornalista Alair de Almeida, Diretor e Editor do Jornal Região Sul em 10/11/2023 às 01:23:55

Um estudo sobre a efetividade da vacina monovalente original contra a covid-19 comprovou uma recomendação jĂĄ divulgada e defendida por especialistas em imunizações e pelo Ministério da SaĂșde, mas ainda não seguida por parte dos residentes no Brasil: a dose de reforço é essencial para se proteger contra a doença. A estimativa é que 84% da população no paĂ­s ainda não recebeu uma dose de reforço da vacina monovalente ou bivalente contra a covid-19.

Para os pesquisadores, apesar de relevante, a proteção de duas doses de vacina monovalente original da Pfizer/BioNTech é de curta duração contra a covid-19 sintomĂĄtica causada pela variante Ômicron. Conforme o estudo, a efetividade da vacina monovalente original da Pfizer/BionNTech contra infecção sintomĂĄtica pela variante é de 54%. A potencial proteção das duas doses contra as variantes Ômicron BA.1 e BA.2 alcança 58% e 51%, respectivamente.

A pesquisa foi realizada na cidade de Toledo, no ParanĂĄ, entre 3 de novembro de 2021 e 20 de junho de 2022, pelo Hospital Moinhos de Vento, com apoio da farmacĂȘutica Pfizer Brasil, em parceria com a Universidade Federal do ParanĂĄ, a Inova Research e a Secretaria Municipal de SaĂșde. Foi analisado o comportamento da covid-19 em um cenĂĄrio em que a cobertura de imunização contra a doença havia sido de 90% nas 4.574 pessoas acima de 12 anos que participaram da amostra.

O estudo destacou ainda que a maior proteção foi notada no perĂ­odo após o recebimento das duas doses, com queda da capacidade de proteção contra infecção sintomĂĄtica com o passar do tempo. Para os pesquisadores, isso seria um indicativo da necessidade das doses de reforço, e também das formulações adaptadas para assegurar cobertura às mais recentes variantes de Ômicron em circulação.

O médico epidemiologista do Hospital Moinhos de Vento e coinvestigador principal do estudo, Maicon Falavigna, contou que a efetividade foi alta após a vacinação inicial, mas diminuiu substancialmente de trĂȘs a quatro meses após a segunda dose. Na visão do pesquisador, a queda na proteção da vacina monovalente original pode ter relação com a mudança do perfil epidemiológico verificado na circulação das variantes. Além disso, pode refletir uma limitação no controle da doença à medida que novas variantes evoluem e a maioria das populações ainda não atingiu a cobertura necessĂĄria com as doses de reforço. "Contudo, isso não significa necessariamente que a vacina perdeu efeito contra formas graves da doença", assegurou.

O médico acrescentou que uma evidĂȘncia da manutenção da elevada proteção da vacina contra as formas graves de covid-19 é a baixa ocorrĂȘncia de hospitalizações e mortes associadas à doença na população do estudo.

O estudo defende a importância da aplicação das doses de reforço da vacina contra o SarsCoV-2 e a manutenção da vigilância em relação ao comportamento da doença na população e da evolução do vĂ­rus. Além disso, os pesquisadores reforçam a necessidade de adoção de vacinas adaptadas com componentes da variante Ômicron.

De acordo com o pesquisador principal do estudo e médico do Serviço de Medicina Interna do Hospital Moinhos de Vento, Regis Goulart Rosa, as informações coincidem com os dados de pesquisas de mundo real conduzidas em outros paĂ­ses, como Estados Unidos e Inglaterra. Na avaliação do médico, o Brasil precisa ter uma alta cobertura vacinal com as doses de reforço.

"Quanto mais pessoas com a imunização completa, menor serĂĄ a circulação do vĂ­rus e menores serão as chances e a velocidade do surgimento de novas variantes, o que aumenta a proteção da população como um todo, principalmente das pessoas mais vulnerĂĄveis", destacou Regis Goulart Rosa.

A AgĂȘncia Nacional de Vigilância SanitĂĄria (Anvisa) deu, em julho deste ano, o registro definitivo da vacina bivalente baseada na plataforma tecnológica de mRNA da Pfizer/BioNTech, que contém o componente contra a variante Ômicron na sua formulação.

O registro definitivo garante a aplicação deste imunizante, que estĂĄ disponĂ­vel no Sistema Único de SaĂșde (SUS), como dose de reforço para pessoas a partir de 5 anos de idade.

No entendimento dos pesquisadores, o ponto forte do estudo é ser "um dos Ășnicos feitos de maneira prospectiva, acompanhando em torno de 3,5% da população da cidade de Toledo após uma intensa campanha de vacinação que resultou em coberturas vacinais maiores de 90%.

Além disso, todos os casos identificados foram acompanhados clinicamente por pelo menos 1 ano, com objetivo de se avaliar potenciais impactos a longo prazo da covid-19 ". Esses dados permanecem em anĂĄlise.

A diretora médica para Vacinas de Covid-19 da Pfizer para Região de Mercados Emergentes, JĂșlia Spinardi, disse que a farmacĂȘutica considera extremamente relevante fortalecer a pesquisa nacional e entender os efeitos da imunização contra covid-19 na população brasileira.

"Estudos que avaliam a utilização da vacina na vida real vĂȘm sendo feitos em todo mundo e são fundamentais para o entendimento das estratégias vacinais e medidas de controle da pandemia.

É muito importante colocar o Brasil nesta rota e ter dados do próprio paĂ­s que apontam a necessidade das doses de reforço", pontuou.

O reitor da Universidade Federal do ParanĂĄ (UFPR), professor Ricardo Marcelo Fonseca, comemorou o fato de a instituição ser pioneira no estudo cientĂ­fico e de saĂșde pĂșblica realizado em parceria com a Pfizer em Toledo.

"Este trabalho é Ășnico em sua abordagem, monitorando toda a população após uma campanha de vacinação bem-sucedida, também com auxĂ­lio da UFPR. Os dados levantados nesta pesquisa impulsionarão avanços significativos em estudos cientĂ­ficos futuros", observou.

Vacinação

A imunização em Toledo começou em janeiro de 2021 destinada a pĂșblicos prioritĂĄrios. Sete meses depois, em agosto de 2021, foi realizada uma campanha de vacinação em massa usando a vacina monovalente original da Pfizer/BioNTech, em esquema de duas doses administradas com 21 dias de intervalo.

Fornecida pelo Programa Nacional de Imunizações (PNI) à Secretaria Municipal de SaĂșde, essa vacina foi aplicada em todos os indivĂ­duos acima de 12 anos não imunizados. O municĂ­pio foi responsĂĄvel por vacinar os habitantes e fazer a manutenção do sistema de vigilância.

A secretĂĄria municipal de SaĂșde, Gabriela Kucharski, considerou um marco Toledo ter sido, à época, a Ășnica cidade brasileira a vacinar toda a sua população elegĂ­vel contra a doença.

"A parceria com as demais entidades referendou um trabalho muito organizado que tĂ­nhamos em relação à administração das doses que recebĂ­amos. A vacinação em massa demonstrou que estĂĄvamos no caminho certo", pontuou.

Para a pesquisa, a pasta recebeu uma remessa de 35.173 doses do imunizante para completar a aplicação da primeira dose tanto na população adulta, acima de 18 anos, como em adolescentes de 12 a 17 anos.

A resposta ao imunizante foi avaliada num grupo heterogĂȘneo de pessoas, com diferentes condições de saĂșde, idade e status socioeconômico.

Modelo do estudo

Segundo os pesquisadores, o municĂ­pio de Toledo, que tem 144 mil habitantes, foi escolhido a partir de critérios como "região geogrĂĄfica favorĂĄvel, epidemiologia demonstrando estabilidade do nĂșmero de casos e circulação de variantes, estrutura fĂ­sica para realizar a vacinação e capacidade do sistema de vigilância estabelecido na cidade".

Os pacientes foram classificados pelos pesquisadores entre os que testaram positivo para a infecção (grupo casos) e os negativos (grupo controle). A média de idade dos participantes do estudo ficou em 27,7 anos. Entre eles, 53,8% eram mulheres. Nenhuma hospitalização ou morte foi registrada no perĂ­odo analisado.

A população acima de 12 anos de idade e na faixa entre 5 e 11 anos de idades foi acompanhada. Também foi avaliada a evolução clĂ­nica dos grupos ao longo do tempo após terem apresentado a doença. De acordo com o estudo, os dados também serão avaliados na expectativa de identificar e escrever potenciais impactos da covid-19 a longo prazo.

O resultado do estudo brasileiro foi publicado recentemente no jornal internacional Vaccine, considerado periódico de ciĂȘncia da mais alta qualidade nas disciplinas relevantes para o campo da vacinologia. "Espera-se que os novos resultados sejam submetidos a periódicos internacionais especializados até o final do ano", indicou o texto do estudo.

Fonte: AgĂȘncia Brasil e da Redação

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