Para os pesquisadores, apesar de relevante, a proteção de duas doses de vacina monovalente original da Pfizer/BioNTech é de curta duração contra a covid-19 sintomĂĄtica causada pela variante Ômicron. Conforme o estudo, a efetividade da vacina monovalente original da Pfizer/BionNTech contra infecção sintomĂĄtica pela variante é de 54%. A potencial proteção das duas doses contra as variantes Ômicron BA.1 e BA.2 alcança 58% e 51%, respectivamente.
A pesquisa foi realizada na cidade de Toledo, no ParanĂĄ, entre 3 de novembro de 2021 e 20 de junho de 2022, pelo Hospital Moinhos de Vento, com apoio da farmacĂȘutica Pfizer Brasil, em parceria com a Universidade Federal do ParanĂĄ, a Inova Research e a Secretaria Municipal de SaĂșde. Foi analisado o comportamento da covid-19 em um cenĂĄrio em que a cobertura de imunização contra a doença havia sido de 90% nas 4.574 pessoas acima de 12 anos que participaram da amostra.O estudo destacou ainda que a maior proteção foi notada no perĂodo após o recebimento das duas doses, com queda da capacidade de proteção contra infecção sintomĂĄtica com o passar do tempo. Para os pesquisadores, isso seria um indicativo da necessidade das doses de reforço, e também das formulações adaptadas para assegurar cobertura às mais recentes variantes de Ômicron em circulação.
O médico epidemiologista do Hospital Moinhos de Vento e coinvestigador principal do estudo, Maicon Falavigna, contou que a efetividade foi alta após a vacinação inicial, mas diminuiu substancialmente de trĂȘs a quatro meses após a segunda dose. Na visão do pesquisador, a queda na proteção da vacina monovalente original pode ter relação com a mudança do perfil epidemiológico verificado na circulação das variantes. Além disso, pode refletir uma limitação no controle da doença à medida que novas variantes evoluem e a maioria das populações ainda não atingiu a cobertura necessĂĄria com as doses de reforço. "Contudo, isso não significa necessariamente que a vacina perdeu efeito contra formas graves da doença", assegurou.
O médico acrescentou que uma evidĂȘncia da manutenção da elevada proteção da vacina contra as formas graves de covid-19 é a baixa ocorrĂȘncia de hospitalizações e mortes associadas à doença na população do estudo.
O estudo defende a importância da aplicação das doses de reforço da vacina contra o SarsCoV-2 e a manutenção da vigilância em relação ao comportamento da doença na população e da evolução do vĂrus. Além disso, os pesquisadores reforçam a necessidade de adoção de vacinas adaptadas com componentes da variante Ômicron.
De acordo com o pesquisador principal do estudo e médico do Serviço de Medicina Interna do Hospital Moinhos de Vento, Regis Goulart Rosa, as informações coincidem com os dados de pesquisas de mundo real conduzidas em outros paĂses, como Estados Unidos e Inglaterra. Na avaliação do médico, o Brasil precisa ter uma alta cobertura vacinal com as doses de reforço.
"Quanto mais pessoas com a imunização completa, menor serĂĄ a circulação do vĂrus e menores serão as chances e a velocidade do surgimento de novas variantes, o que aumenta a proteção da população como um todo, principalmente das pessoas mais vulnerĂĄveis", destacou Regis Goulart Rosa.
A AgĂȘncia Nacional de Vigilância SanitĂĄria (Anvisa) deu, em julho deste ano, o registro definitivo da vacina bivalente baseada na plataforma tecnológica de mRNA da Pfizer/BioNTech, que contém o componente contra a variante Ômicron na sua formulação.
O registro definitivo garante a aplicação deste imunizante, que estĂĄ disponĂvel no Sistema Ănico de SaĂșde (SUS), como dose de reforço para pessoas a partir de 5 anos de idade.
No entendimento dos pesquisadores, o ponto forte do estudo é ser "um dos Ășnicos feitos de maneira prospectiva, acompanhando em torno de 3,5% da população da cidade de Toledo após uma intensa campanha de vacinação que resultou em coberturas vacinais maiores de 90%.
Além disso, todos os casos identificados foram acompanhados clinicamente por pelo menos 1 ano, com objetivo de se avaliar potenciais impactos a longo prazo da covid-19 ". Esses dados permanecem em anĂĄlise.
A diretora médica para Vacinas de Covid-19 da Pfizer para Região de Mercados Emergentes, JĂșlia Spinardi, disse que a farmacĂȘutica considera extremamente relevante fortalecer a pesquisa nacional e entender os efeitos da imunização contra covid-19 na população brasileira.
"Estudos que avaliam a utilização da vacina na vida real vĂȘm sendo feitos em todo mundo e são fundamentais para o entendimento das estratégias vacinais e medidas de controle da pandemia.
É muito importante colocar o Brasil nesta rota e ter dados do próprio paĂs que apontam a necessidade das doses de reforço", pontuou.
O reitor da Universidade Federal do ParanĂĄ (UFPR), professor Ricardo Marcelo Fonseca, comemorou o fato de a instituição ser pioneira no estudo cientĂfico e de saĂșde pĂșblica realizado em parceria com a Pfizer em Toledo.
"Este trabalho é Ășnico em sua abordagem, monitorando toda a população após uma campanha de vacinação bem-sucedida, também com auxĂlio da UFPR. Os dados levantados nesta pesquisa impulsionarão avanços significativos em estudos cientĂficos futuros", observou.
A imunização em Toledo começou em janeiro de 2021 destinada a pĂșblicos prioritĂĄrios. Sete meses depois, em agosto de 2021, foi realizada uma campanha de vacinação em massa usando a vacina monovalente original da Pfizer/BioNTech, em esquema de duas doses administradas com 21 dias de intervalo.
Fornecida pelo Programa Nacional de Imunizações (PNI) à Secretaria Municipal de SaĂșde, essa vacina foi aplicada em todos os indivĂduos acima de 12 anos não imunizados. O municĂpio foi responsĂĄvel por vacinar os habitantes e fazer a manutenção do sistema de vigilância.
A secretĂĄria municipal de SaĂșde, Gabriela Kucharski, considerou um marco Toledo ter sido, à época, a Ășnica cidade brasileira a vacinar toda a sua população elegĂvel contra a doença.
"A parceria com as demais entidades referendou um trabalho muito organizado que tĂnhamos em relação à administração das doses que recebĂamos. A vacinação em massa demonstrou que estĂĄvamos no caminho certo", pontuou.
Para a pesquisa, a pasta recebeu uma remessa de 35.173 doses do imunizante para completar a aplicação da primeira dose tanto na população adulta, acima de 18 anos, como em adolescentes de 12 a 17 anos.
A resposta ao imunizante foi avaliada num grupo heterogĂȘneo de pessoas, com diferentes condições de saĂșde, idade e status socioeconômico.
Segundo os pesquisadores, o municĂpio de Toledo, que tem 144 mil habitantes, foi escolhido a partir de critérios como "região geogrĂĄfica favorĂĄvel, epidemiologia demonstrando estabilidade do nĂșmero de casos e circulação de variantes, estrutura fĂsica para realizar a vacinação e capacidade do sistema de vigilância estabelecido na cidade".
Os pacientes foram classificados pelos pesquisadores entre os que testaram positivo para a infecção (grupo casos) e os negativos (grupo controle). A média de idade dos participantes do estudo ficou em 27,7 anos. Entre eles, 53,8% eram mulheres. Nenhuma hospitalização ou morte foi registrada no perĂodo analisado.
A população acima de 12 anos de idade e na faixa entre 5 e 11 anos de idades foi acompanhada. Também foi avaliada a evolução clĂnica dos grupos ao longo do tempo após terem apresentado a doença. De acordo com o estudo, os dados também serão avaliados na expectativa de identificar e escrever potenciais impactos da covid-19 a longo prazo.
O resultado do estudo brasileiro foi publicado recentemente no jornal internacional Vaccine, considerado periódico de ciĂȘncia da mais alta qualidade nas disciplinas relevantes para o campo da vacinologia. "Espera-se que os novos resultados sejam submetidos a periódicos internacionais especializados até o final do ano", indicou o texto do estudo.
Fonte: AgĂȘncia Brasil e da Redação