'Cada governo tem a trilha sonora que merece', diz Nelson Motta sobre cenário musical brasileiro no Flipoços

Por Marco Antônio Gomes de Carvalho em 11/09/2022 às 13:41:34
Nelson Motta e Eduardo Bueno participaram remotamente do Flipoços e falaram a respeito da música brasileira e sua história. “De modo geral, cada momento histórico e cada governo acaba tendo a trilha sonora que merece. A trilha dos anos JK foi a Bossa Nova, a esperança. Dos anos 80, o rock Brasil, foi libertário, era a trilha da nova democracia. Nos anos do Collor, para mim uma foto inesquecível é o Collor e a Rosane cercado por 60 duplas sertanejas, um tormento para qualquer pessoa”, afirmou o jornalista, escritor e compositor Nelson Motta durante mesa de debates sobre a música popular brasileira, no Flipoços.

Nelson Motta dividiu a mesa com o também jornalista e escritor Eduardo Bueno, que comentou o assunto dizendo que atualmente estamos vivendo a fase do que chamou de "sertanojo".

“Agora surgiu o "sertanojo", a trilha sonora do agro e do governo Bolsonaro que conspurca com o verdadeiro sertanejo, de Almir Sater, que cantava o pantanal, aquela coisa telúrica”, disse.

Apesar do posicionamento pessimista sobre as tendências musicais atuais, Nelson disse que ainda existem ressalvas.

“Há pessoas talentosas, mas a grande maioria é uma porcaria. Convenhamos, a música pop em geral é feita de exceções”, falou.

Durante a conversa, os jornalistas concordaram que as músicas eram atos políticos antigamente, retratando a sociedade e o país. Contudo, principalmente após a virada do século, com a pressão da indústria musical, as músicas teriam se tornado produtos, quando houve grande perda na qualidade musical.

Nelson Motta e Eduardo Bueno discutem o cenário atual da música brasileira em mesa na 17ª edição do Flipoços

Reprodução

Nelson falou também a respeito da sensação nostálgica que algumas pessoas têm de que não se fazem mais músicas como antigamente.

“Sempre tem alguém pra falar dessa saudade, mas eu descobri que essas pessoas sentem saudade mesmo é da época que elas eram modernas, de se sentirem daquela forma. Eu não tenho falta de nada, porque vivi tudo intensamente.”

O compositor complementou dizendo que existem muitos bons artistas fazendo música atualmente, mas que as pessoas não demonstram o mesmo interesse nessas novidades, e consomem apenas o que está em evidência na mídia.

17ª edição do Flipoços termina neste domingo em Poços de Caldas (MG)

Beatriz Mendes/g1

Além disso, Motta considera que há um grande desafio no cenário musical. “Os artistas que têm interesse em fazer músicas boas atualmente são corajosos e precisam estar dispostos a serem melhores do que grandes referências para que não caiam no limbo, com conteúdos clichês.”

Já Eduardo Bueno finalizou dizendo que sente saudade do período em que o Brasil era um país libertário, “Minha saudade é um país menos retrógrado, isso atrasa tudo, qualquer modalidade artística.”

Flipoços

O Flipoços 2022 visa promover a literatura, música e a cultura brasileira. Após nove dias com diversas atrações culturais,o evento termina neste domingo (11), no Espaço Cultural da Urca. O espaço estará aberto ao público até às 18h.

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