'Pensei que não fosse voltar', relembra empresário do Sul de MG que foi transferido por falta de leitos para Covid-19

Por Marco Antônio Gomes de Carvalho em 08/10/2021 às 14:59:35
Carlos Henrique Vieira, de 34 anos, foi transferido de Serrania no Sul de Minas para Coromandel, no Alto do Paranaíba em 29 de maio. 'Pensei que não fosse voltar', relembra empresário do Sul de MG que foi transferido por falta de leitos para Covid-19

Arquivo pessoal

Há quatro meses, o empresário Carlos Henrique Vieira, de 34 anos, vivia um dos momentos mais difíceis de sua vida. Com Covid-19, Carlos precisou ser transferido de Serrania para Coromandel, no Alto do Paranaíba, onde ficou uma semana internado. A transferência aconteceu no momento em que o sistema de saúde do Sul de Minas estava à beira do colapso. Hoje, a situação é diferente e a região possui a menor taxa de ocupação dos leitos de UTI desde o início do ano.

Carlos ou Tião Galinha, como é mais conhecido, possui uma empresa de veículo volante. Era ele quem passava com carro de som pelas ruas da cidade para alertar os moradores de Serrania sobre a Covid-19. Ele contou que reforçava a importância sobre o uso de máscara, álcool gel e também do distanciamento social.

O empresário contou que seguia as medidas sanitárias, mas depois do Dia das Mães começou a sentir alguns sintomas, como vômito e febre.

“Minha esposa pegou Covid primeiro. Nós repartimos a casa, mas quando acabaram os 14 dias de quarentena dela, eu peguei. Ela não teve quase nenhum sintoma, mas eu tive. O vômito machucou minha garganta e, algumas vezes, cheguei até a vomitar sangue”, relembrou.

Alguns dias depois dos primeiros sintomas, o estado de saúde de Carlos piorou e ele precisou ser internado no hospital da cidade. Serrania possui pouco mais de 7,5 mil habitantes e o hospital municipal é de pequeno porte, por isso não possui capacidade para atender todas as necessidades de um paciente com Covid.

Prefeitura de Coromandel fala sobre receber paciente com Covid-19 de outra cidade

Em maio, o hospital tinha cinco leitos destinados para pacientes com Covid-19. Lá, eles aguardavam até serem transferidos para algum hospital de referência da região. Como não havia vaga em nenhum hospital de referência naquela época, Carlos precisou ser transferido para Coromandel.

“Fiquei uma noite em Serrania. O vice-prefeito é meu amigo e ele me contou que eu iria para Coromandel. Como ele brinca muito comigo, na hora eu não acreditei. Aí eu pesquisei no celular a distância e vi que era longe, só depois caiu a ficha”, relembrou.

Carlos foi encaminhado para a UTI do hospital em Coromandel, mas não precisou ficar intubado. Foram sete dias internado, sendo dois dias na UTI e o restante no quarto. Para ele, o mais difícil era a falta de contato com a família, principalmente nos dias em que esteve na UTI.

“Não tinha contato com ninguém, não podia mexer também no celular. A enfermeira fazia uma chamada de vídeo com a família uma vez por dia. Eu pensei que não fosse voltar. Quando sai da UTI, recebi a notícia de que um amigo tinha falecido de Covid. Aí fiquei mais preocupado ainda”.

“Foram dias angustiantes, dias que jamais esquecerei e não tão felizes, mas também tivemos muitas alegrias quando Carlos saiu do hospital. Pessoas iluminadas cruzaram nosso caminho e nunca perdemos a nossa Fé. Infelizmente muitas pessoas não tiveram esse privilégio que tivemos”, disse Pauliane Cristina Sacconi Vieira, esposa de Carlos.

Carlos Henrique e a esposa Pauliane Vieira tiveram Covid-19 em maio deste ano

Arquivo pessoal

Uma semana após a internação e com 10 kg a menos, no dia 5 de junho, Carlos recebeu alta do hospital. Ele, que havia sido levado de helicóptero, retornou para Serrania de ambulância. Mesmo tendo alta, Carlos ainda ficou uma semana de repouso e isolamento em sua casa.

“Eu não estava aguentando mais. Fiquei muito feliz, foi um alívio. Ninguém merece passar a noite em hospital”, afirmou.

O momento mais difícil da vida de Carlos passou. Agora ele está imunizado com as duas doses da vacina contra a Covid-19 e continua seguindo os cuidados contra a doença.

“Só espero que isso acabe logo”.

(entra vídeo da alta)

Covid-19 em Serrania

Serrania precisou transferir pelo menos seis pacientes com Covid-19 para outras cidades de Minas Gerais. O primeiro deles foi o Carlos, no dia 29 de maio para Coromandel.

Carlos foi para a cidade do Alto Paranaíba em um helicóptero do Corpo de Bombeiros, que pousou no campo do Coromandel Esporte. De lá, ele foi transportado por uma ambulândia do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu) para a Unidade de Terapia Intensiva (UTI) da Santa Casa da cidade.

Coromandel recebe paciente de Covid-19 transferido de Serrania, no Sul de Minas

TV Integração/Reprodução

Uma semana depois, outros cinco pacientes precisaram ser transferidos. Segundo o prefeito Luiz Gonzaga Ribeiro Neto (DEM), um homem de 56 anos foi transferido no início da tarde deste sábado (5) para a UTI do Hospital Municipal de Monte Carmelo, na região do Triângulo Mineiro. O paciente estava intubado e foi levado de helicóptero do Corpo de Bombeiros.

Ainda de acordo com o prefeito, quatro pessoas foram transferidas da cidade para leitos clínicos do hospital de Alterosa (MG). O secretário de Saúde do município comentou sobre este período em entrevista para o g1.

Na mesma época, a cidade registrou surto de Covid-19 em um asilo da cidade. Segundo a prefeitura, 23 idosos foram contaminados com Covid-19 no Lar São Vicente de Paula e cinco deles morreram. Após o surto, outros sete idosos também testaram positivo, totalizando 30 contaminados.

“Tivemos ao todo 41 internados, 38 foram pra nossa microrregião, que a referência era Alfenas, Alterosa e Campestre e três foram pra outras, sendo um pro hospital de campanha de Varginha, um pra Coromandel e outro para Monte Carmelo. Os dois últimos com transferência aérea, devido à distância e infelizmente o de Monte Carmelo veio a óbito”, contou Rodrigo Oliveira Santos, secretário de Saúde.

Asilo de Serrania tem surto de Covid-19

Lar São Vicente de Paula

“O maior desafio foi em relação à incapacidade nossa, muitas vezes não podíamos fazer nada. Achando medicamento, oxigênio, sem vagas. Agora estamos em um período bem mais tranquilo, ficamos 13 dias sem nenhum caso. Agora tivemos alguns, mas bem isolados e não temos nenhuma pessoa internada há dois meses”, afirmou Rodrigo.

Segundo o último boletim epidemiológico divulgado pela prefeitura, Serrania já confirmou 766 casos de Covid-19, sendo 24 mortes.

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