TrĂȘs dos 26 suspeitos mortos em MG durante ação policial em Varginha são identificados

Por Jornalista Alair de Almeida, Diretor e Editor do Jornal Região Sul em 01/11/2021 às 19:51:20
Aparato Policial desbarata quadrilha de assaltantes com a morte de 26 bandidos e apreensão de um verdadeiro arsenal de armamentos de Guerra em Varginha

Aparato Policial desbarata quadrilha de assaltantes com a morte de 26 bandidos e apreensão de um verdadeiro arsenal de armamentos de Guerra em Varginha

Os corpos foram encaminhados de Varginha para o Instituto Médico-Legal de Belo Horizonte. Corpos de suspeitos mortos em ação da polĂ­cia passam por identificação no IML de BH

Carlos Eduardo Alvim/TV Globo

A PolĂ­cia Civil divulgou nesta segunda-feira (1Âș) a identificação de trĂȘs dos 26 homens que morreram durante a ação policial realizada neste fim de semana em Varginha, no Sul de Minas Gerais. Horas antes, a corporação tinha dito que o prazo para o inĂ­cio desta confirmação ocorreria a partir desta quarta-feira (3). Mas a polĂ­cia disse nesta noite que isso vai acontecer a medida que os corpos foram identificados.

Foi o caso de Jerônimo da Silva Souza Filho, natural de Porto Velho (RO); Nunes Azevedo Nascimento, do Amazonas, e Gleison Fernando da Silva , de Uberaba (MG).

Amostras de DNA coletadas dos 26 corpos dos suspeitos de assalto a banco serão inseridas no banco nacional de perfis genéticos. A partir disso, poderĂĄ ser apontada a eventual participação deles em outros crimes.

Segundo a PolĂ­cia, nenhum dos corpos estava com documentos. Também não hĂĄ informações sobre o estado deles.

Banco de perfis

A secretaria-executiva da Secretaria de Estado de Justiça e Segurança PĂșblica (Sejusp), a médica legista Tatiana Telles, informou na manhã desta segunda-feira (1Âș) que esse banco de perfis genéticos procura coincidĂȘncias, os chamados "matches", entre o DNA desses corpos e o DNA achado em locais de crime no Brasil.

"Muito provavelmente nós teremos coincidĂȘncias de atuações dessa quadrilha em outros locais de crime, em que por ventura tenham sido inseridos vestĂ­gios", disse a médica legista Tatiana Telles.

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Coletiva da PolĂ­cia Civil sobre ataque em Varginha.

Carlos Eduardo Alvim / TV Globo

A Comissão de Direitos Humanos da Assembleia Legislativa de Minas Gerais pediu uma apuração sobre as mortes. A deputada Andréia de Jesus (PSOL), presidente do colegiado, diz que vai acionar o Ministério PĂșblico e a Secretaria de Segurança PĂșblica investigar o caso.

"Sou solidĂĄria às mães e familiares que estão passando por um momento tão difĂ­cil e afirmo que a Comissão de Direitos Humanos estĂĄ acompanhando o caso e vamos cobrar respostas", disse ao g1.

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A deputada ainda fez crĂ­ticas à atuação dos agentes.

"Uma operação policial exitosa é uma operação que não deixa óbitos para trĂĄs. Infelizmente, no Brasil, a juventude negra ainda continua tendo pena de morte como a Ășnica alternativa", disse a parlamentar.

Ela também defendeu que os mortos tivessem sido responsabilizado pelo crime que cometeram. "Um crime contra patrimônio não justifica a retirada de vida, seja de quem quer que seja", acrescentou.

Regimentalmente, para que a comissão possa iniciar a apuração oficial, é preciso que os deputados membros aprovem um requerimento. Ainda não hĂĄ uma previsão para que isso ocorra.

Vinte e seis suspeitos de roubos a bancos são mortos durante operação policial em Varginha, MG

O Fórum Brasileiro de Segurança PĂșblica também acredita que uma investigação deve ser feita para apurar a ação (veja no vĂ­deo acima).

Protocolo usado em Brumadinho

Segundo a médica legista Tatiana Telles, assim que a PolĂ­cia Civil tomou conhecimento sobre as mortes na operação, encaminhou uma aeronave para Varginha, onde foram feitos os primeiros trabalhos para identificação dos corpos. Eles foram separados por numeração e foi feita uma primeira coleta de digitais.

Após o traslado dos cadĂĄveres para Belo Horizonte em rabecões, cinco peritos e dez legistas começaram a atuar na realização de exames no Instituto Médico-Legal (IML) André Roquette por volta das 21h deste domingo (31).

A decisão de trazĂȘ-los para a capital se deveu à complexidade dos trabalhos. Para identificação dos corpos, foi adotado um protocolo semelhante ao adotado na tragédia de Brumadinho em 2019.

"Assim que os corpos foram recebidos no IML, foram classificados com numeração, foram devidamente colocados protocolo de desastre de massa, igual foi feito em Brumadinho", disse o legista Marcelo Mari.

Os corpos foram submetidos a exames de raio-X, passaram por coleta de DNA e ainda foram refeitas as coletas de impressão digital, para uma dupla chegassem. Os trabalhos seguiram ao longo de toda a madrugada e apenas uma pausa foi feita entre 6h20 e 7h.

Segundo Tatiana Telles, algumas famĂ­lias jĂĄ procuraram o local buscando informações sobre a identificação dos suspeitos, que ainda não tem previsão para conclusão.

"Os familiares que tiverem supostos entes queridos em meio a esses corpos tragam documentos, como exames, tomografias, fotografias que apareçam os dentes, os rostos se tiverem tatuagens, documentos pessoais. Qualquer elemento que facilita a identificação antropológica dos suspeitos", afirmou o médico legista José Roberto Rezende Costa.

O prazo para conclusão do laudo pericial é de dez dias, podendo ser prorrogado devido à complexidade dos trabalhos.

26 mortes

De acordo com levantamentos policiais, a quadrilha se preparava para atacar um centro de distribuição de valores do Banco do Brasil em Varginha. A PolĂ­cia Militar (PM) disse que os suspeitos haviam alugado um sĂ­tio na cidade para ficarem perto do batalhão da corporação e assim realizarem a ação.

Segundo a PolĂ­cia RodoviĂĄria Federal (PRF), os confrontos com os homens ocorreram em duas abordagens diferentes. Na primeira, os suspeitos atacaram as equipes da PRF e da PM, sendo que 18 deles morreram no local.

Em uma segunda chĂĄcara, conforme a PRF, foi encontrada outra parte da quadrilha e, neste local, após intensa troca de tiros, ocorreram as demais mortes.

De acordo com a polĂ­cia, eles tĂȘm relação com crimes cometidos contra instituições financeiras em Uberaba (MG), Araçatuba (SP) e CriciĂșma (SC).

25 suspeitos de roubos a bancos são mortos durante troca de tiros com PM, PRF e Bope em Varginha, MG

Divulgação/PolĂ­cia Militar

Armamento de guerra

Um vĂ­deo divulgado pela PolĂ­cia Militar mostra o que seria armamento de guerra apreendido pelas forças policiais junto com a quadrilha que pretendia assaltar bancos no Sul de Minas.

Conforme a PM, os suspeitos tinham uniformes, coletes balĂ­sticos, coturnos e roupas camufladas. Além disso, tinham carregadores jĂĄ municiados e armamentos de todos os calibres, como fuzis, escopetas e também "miguelitos", usados para furar pneus de viaturas.

A polĂ­cia também apreendeu com os suspeitos vĂĄrios galões de combustĂ­vel e materiais que seriam usados como explosivos.

Os integrantes da quadrilha poderiam fugir em uma carreta com fundo falso apreendida pela PolĂ­cia RodoviĂĄria Federal. A suspeita é da PRF, que localizou o veĂ­culo em Muzambinho (MG).

Caminhão que poderia ser usado na fuga de quadrilha de mortos em MG é apreendido

DomĂ­nio de cidades

O modo de agir dos integrantes da quadrilha de roubos é denominado como "domĂ­nio de cidades". Neste tipo de prĂĄtica, os criminosos utilizam prĂĄticas para impedir que as forças de segurança possam reagir e também colocam em risco a população.

A explicação é do comandante do Batalhão de Operações Especias (Bope), tenente-coronel Rodolfo César Morotti Fernandes. Em entrevista ao g1, ele explicou que a ação dos homens mortos no Sul de Minas é diferente da chamada de "novo cangaço" e é, na verdade, a denominada "domĂ­nio de cidades".

Parte das armas utilizadas pelos integrantes da quadrilha de roubos a bancos motos em Varginha (MG)

Franco Junior/g1

Armamento apreendido durante operação da PM e PRF que resultou na morte de 25 suspeitos de roubo a bancos em Varginha (MG)

Tarciso Silva/EPTV

"Nesse contexto de atuação criminosa, o "novo cangaço" subintende a ações de menor vulto. Ações de quadrilhas menores, com menor poderio bélico e em cidades menores", disse ao g1.

"O domĂ­nio de cidades seria uma evolução do novo cangaço, seria uma forma mais violenta, com mais material empregado, mais efetivo por parte dos criminosos. Ou seja, onde ele teria que dominar a cidade impedindo uma reação imediata da força de segurança, onde ele teria tempo para concretizar a ação criminosa. Basicamente a diferença entre novo cangaço e domĂ­nio de cidades seria isso: a quantidade de agentes e esse ânimo em impedir qualquer reação por parte da força de segurança local", completou.

Fonte: G1 Sul de Minas e PolĂ­cias Civil e Militar, BOPE, PRF

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