Advogada e professora de idiomas, jovem une profissões para driblar pandemia em MG: "encontrei uma via além da tradicional"

Por Marco Antônio Gomes de Carvalho em 23/07/2021 às 08:04:33
Nathaly Morais tem 25 anos e aproveitou a pandemia de Covid-19 para colocar o projeto de um curso de inglês jurídico em prática. Aos 25 anos, a jovem Nathaly Morais Silva uniu a advocacia, área em que é formada, com o amor em dar aulas. Depois de uma decepção no mercado de trabalho, hoje ela segue uma "terceira via" na carreira e oferece um pouco das experiências vividas no Brasil e outros países em um curso de inglês voltado para seus colegas de profissão. A jovem faz parte do grupo de brasileiros que decidiu arriscar e empreender durante a pandemia de Covid-19.

Advogada e professora de idiomas, jovem 'une' profissões para driblar pandemia em MG: "encontrei uma via além da tradicional"

Rick Batista

Segundo o Sebrae, houve um aumento significativo de Microempreendedores Individuais durante a pandemia. Isto porque o MEI é uma modalidade mais acessível para quem deseja começar do zero.

No Brasil, ao comparar os dados de 2020 até junho deste ano, houve mais de 1,1 milhão de novos empreendedores. Só Minas Gerais, são mais 120,8 mil novos MEIs neste mesmo período. A maioria deles com idade entre 16 e 40 anos.

“A maioria das pessoas aproveitou a oportunidade para não ficar parado e tem também aquelas pessoas que empreenderam para complementar a renda familiar”, explicou Amanda Luiza Cezário, analista do Sebrae.

A Nathaly, por exemplo, lançou o curso de inglês jurídico em outubro do ano passado nas redes sociais. No começo de 2020 ela foi demitida do escritório de advocacia que trabalhava. Depois deste fato, pandemia antecipou e concretizou um projeto que, antes, era apenas idealizado e parecia algo distante.

Isto porque a ideia inicial era elaborar um plano de aulas de inglês jurídico que seria ministrado presencialmente em faculdades e até mesmo em empresas. Entretanto, a pandemia de Covid-19 e o movimento de busca por cursos de capacitação online fez com que ela começasse uma corrida contra o tempo.

A jovem empreendedora se dedicou em fazer cursos, ler livros, assistir séries e filmes sobre o assunto, aprender técnicas de gravação de vídeo e mergulhar de cabeça nas redes sociais. O que antes era um perfil pessoal, com fotos de momentos descontraídos com os amigos e família, foi ganhando um ar profissional até o lançamento do curso.

Hoje ela gerencia uma página específica para falar com pessoas da área do direito sobre a importância do inglês para advogados que desejam alavancar a carreira.

“Um advogado com conhecimento de inglês jurídico dá um salto de importância na carreira. Ele se torna um profissional qualificado para o mercado internacional e vai atingir o sucesso na profissão”, afirmou Nathaly.

O que é inglês jurídico?

Nathaly já dava aula de idiomas muito antes de se formar bacharel em Direito. A ideia de um curso de inglês voltado para advogados começou a surgir depois que uma aluna sugeriu que ela trouxesse vocabulários próprios da área.

O curso tem como objetivo ensinar termos técnicos do Direito da forma como eles são ditos, dentro do contexto correto, em inglês. De acordo com ela, dominar o inglês jurídico pode ser o diferencial de um profissional desta área.

A professora, que lançou o curso às pressas para suprir a necessidade da pandemia, precisou se adaptar à procura pelas aulas. Além do curso lançado na plataforma criada, ela oferece a modalidade de aulas ao vivo.

O estudante tem acesso a apostilas, suporte para tirar dúvidas e um certificado ao final do curso. Dentre os temas discutidos estão os falsos cognatos do inglês jurídico, simulação de entrevista de emprego, além de vocabulários e expressões da área.

Jovem lança curso de inglês jurídico durante pandemia de Covid-19 em MG

Rick Batista

Segundo a professora, não é necessário ter fluência em inglês para cursar a modalidade.

“É acessível para todos. Um [curso] vai caminhando junto com o outro. Dá para entender perfeitamente, mas a pessoa que já tem certo conhecimento vai ter facilidade no vocabulário”, explicou.

A Mariana é uma das alunas de Nathaly. Ela conheceu o curso em um grupo nas redes sociais, por meio de indicações. Estudante de direito, a jovem acredita que o conhecimento de termos jurídicos em outro idioma vai ser essencial para sua carreira.

“Eu sempre fiz aulas de inglês, mas não imaginava que ele era tão necessário. Pensava que o que eu sabia era o suficiente, mas quando você pega um artigo para ler, você percebe que o inglês jurídico é um mundo à parte. Mesmo que você saiba inglês, a parte jurídica é muito diferente. Percebi que independente do ramo da área do direito que eu escolher, preciso ter o inglês jurídico muito bom”, afirmou Mariana Evangelista.

Advogada ou professora? Os dois!

Para entender o porquê da jovem de 25 anos ter optado por dar aulas de inglês jurídico é preciso fazer uma rápida viagem ao passado. Nathaly é nascida em Cabo Verde (MG), mas mora atualmente em Poços de Caldas (MG).

A fluência na língua inglesa veio junto com o processo de alfabetização. Isto porque ainda muito nova, ela e a família se mudaram do Brasil. Eles moraram na Suíça, na França e nos Estados Unidos, onde ficou até os 15 anos de idade.

Nathaly e a família nos Estados Unidos

Arquivo Pessoal

De volta ao Brasil, Nathaly aproveitou de seu conhecimento no idioma e começou a dar aulas em uma escola de Poços de Caldas. Na época ela já cursava Direito.

Depois de dois anos como professora, decidiu se dedicar à futura profissão e iniciou um estágio, que durou até o fim de sua graduação. Após formada e com a aprovação no exame da Ordem dos Advogados do Brasil, a mais nova advogada conseguiu um emprego de meio período em um escritório da cidade.

Como o salário não era o suficiente, ela voltou a dar aulas em outra escola de idiomas, desta vez de inglês e francês. Foi então que a rotina começou a ficar muito agitada. Dava aulas de idiomas de manhã e de noite e trabalhava no escritório de tarde.

E assim foi até março do ano passado, quando, logo no início da pandemia, ela foi demitida do escritório.

“Eu não estava esperando. Tinha acabado de voltar de uma viagem. Fiquei muito mal e durante alguns dias foi um luto. Pra mim, naquele momento tinha morrido um sonho meu”, relembrou.

Mas quando um sonho morre, outro nasce e foi depois deste momento difícil na carreira de qualquer profissional que ela organizou as ideias e colocou a ideia do curso de inglês jurídico em prática.

“Eu terminei de dar uma aula de inglês para uma aluna e quando terminei eu estava bem e percebi que era o que eu queria fazer”, afirmou.

Para Nathaly, a escolha de dar aulas de inglês para advogados não foi uma renúncia à profissão. Ser professora não faz com que ela seja menos advogada.

“Sempre há o medo de fracassar e as pessoas acharem que eu dou aula por não ter dado certo na advocacia, mas não foi uma desistência da profissão. Eu só dou aula de inglês jurídico porque sou formada em direito. Na verdade, eu encontrei uma carreira jurídica diferente das demais pessoas, é uma terceira via, algo além do tradicional”.

Professora e empreendedora

Curso foi lançado durante a pandemia de Covid-19

Rick Batista

A analista do Sebrae, Amanda Cezário, afirmou que todo negócio tem potencial para dar certo, mas é preciso comprometimento de cada empresário.

“Tenha uma reserva financeira para os primeiros seis meses. Separe do caixa da empresa um salário para você de acordo com as despesas e aquilo que é capitalizado.

Nathaly contou que precisou aprender a lidar com o empreendedorismo. Assim que decidiu abrir o curso, ela se profissionalizou e se tornou uma Microempreendedora Individual.

“Demorei pra ver minha função como um empreendimento. No começo, eu via as aulas como um "bico", algo temporário. Hoje eu entendo melhor como funciona. Divido o que eu ganho com cada uma das aulas para pagar as despesas e guardo, mas ainda é tudo um aprendizado".

Quase um ano depois do lançamento do curso, a jovem está satisfeita com os caminhos trilhados por ela.

Estou muito feliz com a minha decisão, sem arrependimentos. Hoje eu tenho a autonomia que a advocacia não me daria neste momento”, finalizou.

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